TV em Preto e Branco
ERA no tempo da tevê em preto e branco, começo dos anos 60. No interior os sinais de tevê eram captados por antenas artesanais construídas por técnicos em eletricidade das próprias cidades. Elas eram instadas em morros, cruzeiros ou serrinhas. As imagens chegavam aos receptores com aquele chuvisco chato e o som não era bom. No entanto, de vez em quando ficava tudo nos trinques.
Na nossa cidade, Prsqueira, a Ororubá Lendária e Eterna, o responsável pelas antenas era Toinho Machado. Ele ligava as antenas ao meio dia e desligava à meus noite. As pessoas diziam que as imagens quando margeavam não soniavam e quando siniavam não margeavam. Detalhe: quando ele desligava à noite, entrava no ar um som sem imagem falando em espanhol. Parece que era da Venezuela.
Bom, fiz essa introdução para contarem episódio no qual fui um protagonista bestalhão. Seguinte: eu participava à noitinha de uma roda de papo no estabelecimento de um comerciante, um cara progressista mas que “escorregava nas suas narrativas. Fazia isso com muita habilidade que muita gente acreditava nas suas escorregadas. Eu por exemplo acreditava. Um dia cheguei na roda de papo, era o dia 27 de julho de 60 e lá vai fumaça e o comerciante foi logo me dizendo: - Uilha (assim me chamam em Pesqueira), ontem depois que Machado desligou a antena, de repente apareceu na tevê imagens coloridas da tevê cubana. Era o aniversário da Revolução dos barbudos. O 26 de julho. Era um comício com mais de um milhão de pessoa. Uma festa arretada. Vi no palanque Fidel Castro, Che Guevara e Raul Castro. Ainda quis ir te avisar mas era tarde e não quis incomodar”. Eu acreditei e, juro, lamentei ele não ter me avisado.
No outro dia, de manhã, na hora que saía para ir pro banco, vi Machado saindo de casa. Lembrei do comício de Cuba e contei o fato a ele. O cara riu tanto que engasgou e depois disse não me chamando de Uilha: “Você é mesmo um Zé Mané, um bestalhão. Rapaz, se a televisão colorida agora é que está chegando nos Estados Unidos, se não tem nem em São Paulo e nem no Rio, como se poderia receber imagens coloridas de Cuba. Você é mesmo um besta”. E espalhou o caso na cidade. Fui gozado durante muito tempo. Não acreditei mais nas narrativas do cara que escorregava, mas continuei na roda de papo. William Porto. Inté.