Hoje os frutos apodrecem de "tão maduros"
Da janela do meu quarto, me deparo dia-ria-mente com a natureza. Uma antiga fazenda de café, patrimônio histórico da cidade, alegra minha visão logo ao despertar. O frescor da mata adentra o ambiente... meu "ar condicionado " natural... herbal. Aromas excitam minhas narinas ao abrir as janelas... da casa, da alma.
Deitada em minha cama, deslumbro-me com o verde da mata que se mescla ao azul do céu. Os pássaros não esquecem de louvar a cada novo amanhecer. Pontualmente todos os dias.
Borboletas amarelas fazem voos rasantes por entre as relvas. Verde e amarelo bem que combinam!... me anima!
Árvores seculares parecem entrelaçarem seus "braços"... o galho de uma adentra o espaço da outra... sem conflitos... penso que no solo, suas ramificações também. Não fazem distinção, pulsam em um só coração.
De repente ouço um estrondo vindo lá de fora, corro para a janela para verificar... são jacas, que de tão maduras, se lançam ao chão em queda livre. O impacto rompe sua estrutura áspera, seu odor marcante é exalado pelos ares... um convite para o banquete dos quatis... que se reúnem para partilhar o alimento. Ai das jaqueiras, das goiabeiras!... não fossem esses animais e tantos outros a devorar seus frutos... tantas outras árvores frutíferas que têm aqui por perto, estariam todas fadadas a frutificar sem propósito algum.
Enquanto os homens estão sempre eufóricos e estressados em suas rotinas frenéticas, nem sobra tempo para contemplar o belo, nem de colher os frutos ofertados pela generosa mãe natureza, estão todos entretidos demais com as superficialidades cotidianas, semeando discórdia e colhendo seus frutos podres.
Hoje os frutos apodrecem de tão maduros... por rejeição... aguardando mãos que não virão. Era do fast food, do tudo pronto, embalado à vácuo... comida express... "embalado pra viagem"... tudo na "palma das mãos "... quem irá colher os frutos que ninguém planta mais e nem têm ânimo para colher?... só servem para decorar... mas nem sempre estarão por lá... e as fomes continuarão a existir, nada e nem ninguém poderá saciá-las. Repito: hoje os frutos apodrecem de maduros... muitos se acham astutos, mas a verdade é que poucos amadurecem a ideia... e você nem faz ideia do quê. Quiçá esse seja só mais um devaneio poético... fruto das minhas impressões, das minhas inquietações... fecho as janelas do mundo, retomo minha atenção para a janela do meu quarto, busco inspiração para despertar para mais um dia.
Lanço sementes subjetivas em solos áridos, irrigo com minhas lágrimas lastimosas... deixa germinar... uma hora a colheita vai vingar... ou morreremos de fome... e as fomes, diferem entre si, todas têm nomes.