A traruíra!
A traruíra!
Para quem não conhece é um bichinho inofensivo, parece uma largatixa, um largato, mas pequenino, branquinho, não como leite, clarinho que vive dentro de casa, andando pelas paredes e tetos comendo bichinhos, qualquer um desavisado: mosquito, aranha, até barata!
Para quem conhece e tem medo, não há explicação, nem mesmo Freud, é exasperante, algo medonho, aterrorizador a visão da traruíra. Não precisa tocá-la, é impensável tal gesto. Passar ali, naquela porta, onde ela está lá encima, na parede, sei lá, no teto, de jeito nenhum.
Pior aconteceu com a Ana Carolina. Sei lá porque a traruíra entrou em sua pia. Pia inox, muito escorregadia, até para uma traruíra que anda em paredes e tetos. Ela não conseguia sair de lá.
Ana Carolina, filha minha, não deixa vasilha dormir suja. Mas, neste dia, recuou, preferiu fechar a porta da cozinha e foi deitar.
No outro dia, cedinho, ressabiada, cá de longe viu o rabinho da desgraçada, não foi lá, tomou café na padaria e foi trabalhar.
Voltou tarde, nem sabe porque, mas voltou. Olhou na cozinha e lá, ainda estava, olhos esbugalhados, olhando para ela, a traruíra.
Cá de longe imaginou estratégia para se livrar do medonho bichinho. Pegou um rodo e pé ante pé aproximou, o mais longe possível e, na sua visão, construiu uma ponte, uma pinguela para a traruíra sair de sua pia.
Para sua segurança não ficou esperando o resultado, bateu a porta, correu para o quarto, fechou a porta e neste dia deitou mais cedo, nem dormiu!
Não deu certo. A traruíra não conseguiu, ou não quis sair da pia da minha filha. Já era o segundo dia de suplício...
Não restou alternativa, ligou para o Joecyr. Joecyr é o marido da síndica. Joecyr, o senhor pode resolver um problema aqui em casa?
Joecyr solícito, rapidamente acorreu, por precaução trouxe a esposa, a síndica.
Não preciso relatar o resto. O Joecyr foi lá, macho, destemido, precavido, vestiu luva pegou a traruíra, ensacou e jogou no lixo.
Minha filha, ainda abalada, reclamou, senhor Joecyr, aí não, joga lá fora, e se ela voltar..