A Mulher Perdida

Estava sentado em um banco de madeira a aguardar meu ônibus a mais de três horas na estação rodoviária de Porto Alegre. Fico ali sorvendo e admirando loiras e morenas de minissaiazinha e saltos altos com pernas longas e lustrosas que desfilam para lá e para cá como se fossem Giseles Birnfelds. É admirável tamanha beleza feminina. Como Porto Alegre tem mulheres de pernas grossas e seios fartos. Isso é fato consumado.

Estou ali, imóvel, escrevendinho um texto qualquer para os leitorinhos quando ao meu lado senta uma dessas loiras que eu antes apenas admirava e que já desejava. Sentou do ladinho, juntinho, pernas com pernas, coxa roçando com coxa. Suspiro. Solto um breve suspiro de alívio e olho pra cima, pros céus e falo pra mim mesmo.

“Obrigado”.

Me sobe um arrepio e um desejo incontrolado das plantas dos pés e já fico imaginando aquela loira magnífica que naquele momento já estaria completamente apaixonada por mim sussurrando gemidinhos e uivos de tesão.

Tento puxar um assunto, qualquer que seja o papo caberia bem. Pois ela sentara do meu ladinho, juntinho, com todo espaço cabível no banco de madeira. Ela estava caidinha por mim. Só pode! Penso, penso e nada me vem em mente. Sempre fui bem com as palavras, sempre conquistara mulheres de alto padrão com papos inteligentíssimos e rememoráveis que mereceriam até um Oscar. Mulheres gostam de homens que sabem conversar. Mas ali não me vinha, que idiota estava sendo, ela devia pensar que eu era mudo, ou fanho, ou gago. Ela desapaixonaria.

Num lapso perguntei do tempo.

“Faz calor né”.

Ela apenas balançou a cabeça. Que idiota estava sendo! Perguntar do tempo era óbvio, era visível. Mulheres odeiam homens óbvios. Mesmo com o calor horrendo que fazia naquela tarde em Porto Alegre.

Senti-me um completo babaca, um desprezível homem qualquer. Teria que elaborar outro plano de conquista imediato. Já! Pensei em convidá-la para um café, mas tinha no bolso apenas seis reais e alguns centavos. Impossível. Então perguntei:

“Você é de Porto mesmo?” Tentei ao máximo forçar um sotaque portoalegrense, fazendo esconder meu forte sotaque interiorano.

“Não. Sou de Santa Maria”

Me arrepiei ainda mais. Loira, linda e de Santa Maria. Todos sabem que Santa Maria é cidade de estudantes magníficas que gostam de festinhas e talicoisa.

Precisava de algo impactante, um papo desconcertante que faria as pessoas que andavam apressadamente pela estação parar, o locutor que falava e falava num microfone chiado engasgar. Algo mágico. Precisava.

Não podia perder aquela loira. Não mesmo.

Passou meia hora e nada. Nada me vinha. Nada de interessante. Eu suara como nunca, esbaforido num calor de trinta e poucos graus. E para minha tristeza vi ela abanar, ao longe para alguém. E esse alguém vinha vindo, e vindo cada vez mais rápido. Ela levantou-se e foi ao seus braços falando:

“Como faz calor amor”.

E ele magnífico por ter aquela mulher indagou:

“Co-co-como-mo foi de-de vi-viajem?”

Ele era gago! E ela óbvia!

Minha paixão acabou em plena frustração. Uma loira exuberante e perfeita ser óbvia. Não! Homens também devem ser seletivos e nunca perderem oportunidades como a minha. E as mulheres menos óbvias.