Fim-de-ano

Edson Gonçalves Ferreira

Minha tia tocava violino desde o cinco anos de idade. Deu concerto por todo o Brasil e, agora, está inerte, na cama, com mais de 100 anos de idade. Ah, Tia Luíza, não sei se compensa viver assim, mas, de qualquer forma, a senhora está entre nós e, com certeza, percebe. Afinal, quem tocou violino tão maravilhosamente tem uma sensibilidade sem par. Assim, tia, lembrando-me da senhora, inicio essa crônica de fim-de-ano...

Este ano, entrei para o Recanto das Letras e conheci muitas pessoas e, inclusive, ganhei muitos amigos e amigas novos. Não vou citar nomes, porque a memória poderia me trair agora. Cada palavra escrita voltou doirada com o comentário dos inúmeros amigos. Tornei-me poeta ou nasci poeta para encantar o mundo. Poesia, tia, para mim é tão doce quanto tocar violino.

Falando em violino, lembro-me tia, da Tia Eulina, do Tio João que, também, tocavam este instrumento divinamente. Eu tomei aulas, comecei a arranhar e cheguei a tocar algumas peças nesse instrumento. Depois, a minha voz se tornou o meu instrumento predileto. Estudei partitura e fiquei só na regência e na cantoria seja como tenor ou barítono. Hoje, percebo que a caneta virou o arco do violino da minha poesia!

Assim, quando estou escrevendo, verifico se há afinação das minhas palavras com o que vivo. Não posso fingir que sinto. Concordo até com Fernando Pessoa que, em determinados pontos, "o poeta é um fingidor". Só que não é possível fingir completamente e, assim, a minha poesia me arrebata e com ela quero arrebatar todos que a leiam.

Ao findar mais um ano, sem saber se Deus nos deixará atravessar todo o ano de 2008, começo a cantar a "Salve Regina", pedindo forças e saúde para a senhora, para mim e para todos que nos cercam. Sabemos que contar o tempo é uma bobagem enorme. O importante é viver cada segundo como se fosse a eternidade, consagrando-o com amor, muito amor.

É com esse pensamento que termino essa crônica, feita corrida, tão corrida como tem sido a minha vida e, falando nisso, tia, não sei porque corro tanto, talvez porque queira deixar um rastro bem grande na terra para que saibam que eu passei por aqui, amando loucamente a vida. Afinal, a vida só vale se doer muito, se doer tanto que a gente chora, grita, sorri porque "navegar é preciso, viver não é preciso".

Div. 19.12.07

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 19/12/2007
Reeditado em 20/12/2007
Código do texto: T784594
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