Serpenteando

Hoje, quebrando o costume habitual de estar sempre cheio, o ônibus estava surpreendentemente quase vazio. Ao meu lado, a moça da farmácia procurava uma música aleatória em sua playlist do Spotify, talvez tentando evitar as mesmas músicas que o motorista teima ouvir. Ela suspirou, como se buscasse uma forma de escapar do som repetitivo.

Na poltrona à frente, uma jovem aprendiz se remexia, tentando encontrar uma posição confortável para dormir, mas como dormir com o ônibus serpentando a cada quilômetro percorrido? Ops! Quase deixei meu celular cair, reajustei-me na poltrona e coloquei o pé próximo à jovem, que parecia indiferente à dança forçada da estrada imposta ao ônibus.

A playlist mudou, e agora ouvíamos uma música sobre quem se casar com Maria só vai comer tapioca. Oche! Repetiu pela segunda vez, e, sem querer, percebi que a decorei completamente. De repente, o motorista erra a marcha, o ônibus engasga levando nosso corpo para a frente. Atordoado, ele olha pelo espelho, conferindo o pessoal a bordo, e, ao encontrar meu olhar, forço um sorriso e viro a cabeça para a frente gesticulando o perigo, mas já era tarde. O ônibus passou por um buraco na pista que mais parecia uma cratera, o motorista balançou a cabeça, como se se repreendesse por cair em algo que tantas vezes evitou. Suspirei internamente, eu tentei avisar…

Foi um lembrete de que distrações podem ser fatais. Já ouvi muito que é o hábito que mata, mas pela primeira vez percebi que também é possível cair em um buraco mesmo sabendo que ele está lá.

Daniele Pereira
Enviado por Daniele Pereira em 25/07/2023
Reeditado em 05/08/2023
Código do texto: T7845766
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