NÃO, NÃO SOU POETA
- Crônica do dia 24-07-2023 -
“- Não, não sou poeta
Mas eu sei que alguém me disse uma vez, para aproveitar o momento e não desperdiçá-lo”
Como poderia, Deus, ser tão injusto e dar o “dom” de ser poeta a alguém que já nasceu sendo a própria poesia. O próprio encanto envolto em miragens encantadoras que despertam a vontade de sonhar.
Não digo o sonho, propriamente. Este que pode ter a semântica que qualquer um quiser colocar em qualquer contexto. Mas digo da essência do sonho, que, pra ter este nome precisa ser bom, agradável, harmônico, sutil.
Como poderia o sol largar o firmamento para aquecer-se de sua luz? Ou a Lua descer de seu pedestal e surfar nas ondas que tantos e tantos desfrutam.
Este é um mistério da vida. A árvore toma sol para dar sombra a quem dela aprecia ou precisa. O Universo, como vejo, é um grande ser vivo que serve para nos ensinar que nosso “dom” é despertar o que há de melhor nos outros.
Estes outros é que fazem medo. Alguns querem algo que é belo tanto para si, que agem como os cruéis que prendem pássaros em gaiolas e querem ser os únicos donos de seu canto, que, depois de já não estarem no meio que os fazia cantar, ou perdem a vontade de fazê-lo, ou cantam para distrair sua angústia.
Como uma flor que se colhe do caule e em poucos minutos murcha, e o próprio amante daquela beleza a joga ao relento para que termine de decompor-se.
E há aqueles que põem frutas nas árvores de seu quintal para que os passarinhos venham visita-lo todos os dias e animá-lo com seu canto de alegria, em liberdade, como deve ser.
Há quem planta um roseiral, e tem flores e cores diferentes todos os dias, além de beija-flores para admirar sempre.
Este passarinho e estas flores são a poesia de Deus, assim como você é a poesia que tento transcrever em versos. Me basta sua existência para que minhas palavras existam, assim como basta o sol para que haja a vida. O alimento para se ter do que viver, e as flores, como tu, para se ter pelo que viver.
Graciliano Tolentino