LENÇOS
Com o advento dos descartáveis e o desmantelamento das tradições, o lenço, que foi peça fundamental em priscas eras, quadrados, imaculadamente brancos, barrados, com bordados ou estampados com as mais variadas cores, vendidos em caixas contendo seis unidades, para a maioria, perdeu a sua categoria de indispensável, entretanto ainda é usado por daqueles que aceitam a modernidade, mas não dispensam coisas úteis.
Atualmente os lenços são estilosos acessórios femininos usados em quaisquer ocasiões por conta dos incontáveis arranjos que eles proporcionam em complemento ao vestuário.
Os lenços serviam para quase tudo, desde o singelo destaque no inútil bolso esterno do paletó ou até para tamponar ferimentos em ocasionais acidentes.
Era companheiro inseparável daqueles que cheiravam rapé e dos que sofriam os rigores das alergias respiratórias, no meu caso, em todas as manhãs, a infalível série de espirros e olhos lacrimosos por conta da fábrica que processava sementes de algodão e de mamona para produção óleos e sabões.
Os homens usavam o lenço para secar o suor da cabeça e o interior dos chapéus; molhado com água fria, servia para aliviar o calor no rosto do caminhante ou para controlar a temperatura quando colocado nas testas dos enfermos.
Durante a belle époque o lenço servia para comunicação entre os galanteadores e as “donzelas casadoiras” vigiadas de perto pelos severos acompanhantes quer nas igrejas, teatros, passeios públicos ou festas de rua e na época em que não haviam os veículos motorizados, os dejetos dos animais de tração misturavam-se com o esgoto e a lama nas ruas descalçadas e, para evitar o incômodo dos miasmas, aquelas pessoas de fino trato serviam-se de lenços perfumados, colocados, geralmente, nos punhos das vestes.
Agitados, lenços brancos pedem paz entre contendores e de quaisquer cores são símbolo de despedida.
Talvez por isso, a sabedoria popular entendia que presentear alguém com lenço revelava o desejo de romper a amizade para sempre.
Mas tudo isso é passado, hoje usamos os higiênicos lenços de papel, descartáveis, baratos e que se compra em qualquer lugar.
GLOSSÁRIO
Algodão = Gossypium hirsutum
Belle époque = final do século XIX até a primeira guerra mundial em 1914
Mamona = Ricinus communis
Miasmas = emanações de matéria orgânica em decomposição
Rapé = folha de tabaco torrada e moída; Nicotiana tabacum