Garupas de bicicletas
"Tenho medos bobos e coragens absurdas." Identifico-me com essa frase. Um dos meus medos mais bobos é andar de moto ou em garupas de bicicletas. O motivo? Vemos poucos acidentes de ônibus por dia, mas vários acidentes envolvendo motos e bicicletas.
Em toda minha vida, só andei na garupa de cinco pessoas. Arrependi-me em duas: minha mãe, que me derrubou na lama e meu padrasto, que voava com a bicicleta e me fazia pular com os quebra molas. Não sou uma pessoa romântica a ponto de querer voar como os pássaros, na verdade, quanto mais eu estiver firme no chão, melhor.
A primeira pessoa em quem confiei para andar na garupa foi meu pai. Nesse tempo ele bebia, andava em zigue-zague no meio de caminhões e ônibus. Parecia que ele não se importava em viver ou morrer. Hoje ele continua bebendo e na verdade, hoje ele já não é mais meu pai, é apenas a sombra de alguém bom que ele já foi. Já estou acostumada a desligar a televisão vendo-o dormir no chão inconsciente depois de tentar afogar as mágoas no álcool e conseguir apenas regá-las. Hoje ele já não é mais uma pessoa confiável para levar alguém na bicicleta. Na verdade, ele já não sabe nem tocar a própria vida em frente mais.
Meu ex namorado me levava na garupa da bicicleta. Sempre pedia para eu segurar firme, o que me dava mais medo ainda porque parecia que ele estava me avisando que eu poderia cair a qualquer manobra.
A última pessoa que ganhou minha confiança a ponto de eu subir numa garupa foi meu namorado. E só me apercebi disso depois de estar maravilhada vendo a orla enquanto ele alternava entre ciclista e guia turístico. Lembro de pensar no momento em uma frase que tenho como mantra: "Deus ao mar o céu e o abismo deu." Sempre penso nisso vendo a baía. É lindo, mas perigoso. É uma paisagem que me enche de esperança e ao mesmo tempo de medo.
Um dia, vencerei meu medo das garupas. E conseguirei eu mesma equilibrar-me em uma bicicleta e sair pedalando. Por hora, estou conformada.