ESCOLA JOAQUIM TÁVORA - UM FUTURO... PERDIDO NO PASSADO
ESCOLA JOAQUIM TÁVORA - UM FUTURO... PERDIDO NO PASSADO
Depois de trabalhar alguns anos na Zona Rural, percebi que o mundo até então conhecido, mudara de forma, sentido, profundidade e extensão. Eu não era a mesma pessoa e isso, ao mesmo tempo que constrangia,tornava-me senhora de uma altivez que por estranho, encorajava minhas ações instigadoras.Explico! A doença de minha Mãe e todo seu sofrimento até sua morte criara um sentido de justiça, alheio a qualquer senso comum.Não entendia e não aceito tal condição injusta,apesar de imenso esforço dela, mulher extremamente devota ao catolicismo, usando de toda sua fé para me convencer que "Deus sabe o que faz"!
Mais tarde, a perda de meu Pai de forma tão cruel e surpreendente, fez evoluir em mim um novo sentido de existência. Descobri que a solidão é amarga para quem não tem saudades!E saudade é memória viva e palpável!
Fui aluna do Jardim de Infância que ficava frente à Igreja de Sant`Ana, localizada no alto da praça com o mesmo nome, em Niterói. Tive sorte! Muita sorte! Minha professora era poetisa, gostava de escrever peças curtas e compor pequenas canções, que decorávamos e apresentávamos como "Auto de Natal", além de pequenas dramatizações cantadas e contadas em versos e louvores em defesa da Natureza...Já, naquele tempo distante, era sua constante preocupação! Eram momentos belos e inesquecíveis. Até hoje canto e lembro de cor,por incrível que possa parecer,canções e textos de suas poesias!
Bem,mudamos para Icaraí, até então, minha mãe era saudável! Ela queria muito que eu fizesse o Curso Primário na Escola Joaquim Távora - uma escola fantástica, inesquecível, incomparável, fora do espaço temporal por estar, até hoje, frente a um futuro inalcançável! Escrevi,há algum tempo um texto intitulado "Viagem ao Futuro do Pretérito" que narra esta minha positiva experiência infantil.Ali aprendi que, historicamente, a liberdade sem limites escraviza impiedosamente. Todas as personagens históricas, senhoras de poder ilimitado viveram na dependência daqueles detentores do conhecimento das fragilidades alheias que a vaidade impõe. Lá, na Joaquim Távora, éramos livres para brincar e correr num espaço enriquecido de sombras e gramados cortados por um riacho, povoado por aves,atravessado por pontes individuais e outras coletivas...Um sinal tocava e determinava assim, que agora, lavar mãos, guardar brinquedos e, se por em forma para dar sequência às aulas, era o comportamento natural decorrente.
Dona Eumaya, nossa professora de primeira série, criou uma espécie de ritual a ser cumprido ao retornarmos:
- inspirar e expirar cinco vezes - depois, baixar a cabeça, fechar os olhos e ficar deitado sobre os braços cruzados, durante cinco minutos.Segundo ela, eram exercícios de "volta à calma". E dava certo! A aula seguia seu curso normal, agora, sem interferência de qualquer agitação.
Ali, evoluiu minha vocação para o Magistério! Minha mãe me alfabetizou.Tinha essa urgência, provocada pelo medo de partir. Assim,aprendi cedo a ler e lia muitos livros presenteados por amigos de meus pais movidos pela surpresa antecipada do meu domínio da leitura e pelo pesar da expectativa do desenlace materno.
D.EUMAYA costumava me pedir para estudar páginas da cartilha com aqueles coleguinhas que tinham dificuldades e ela ficava radiante com a evolução que eu promovia. Descobri minha vocação -ali- e nunca duvidei disso. Aos poucos,os próprios colegas me pediam ajuda, antes que a professora os chamassem para leitura em voz alta.A Escola era viva, ativa, altiva e ali tudo se movimentava! Todas as datas, cívicas ou não, eram comemoradas como incentivo a nossa criatividade!As dramatizações de textos eram de nossa autoria e discutidas com os mestres e apresentada à diretora PROFESSORA ALZIRA BITTENCOURT, amada por todos! Com auxílio da professora de Artes, criávamos cenários(lá, aprendi que cenários "falam"e que não são alheios aos nossos interesses.Funcionam como a Natureza que reage as nossas intenções e ações).
A Escola Joaquim Távora viveu no Passado, um Futuro que nunca mais se fez Presente!