A parede

   Era apenas uma parede que nos separava. Ela era invisível aos olhos humanos, mas a sentíamos no nosso dia a dia. Eu vivia em um mundo, onde um lado desta parede, apenas trabalhava e via a vida passar diante de si. Domingos, feriados, dias santos, carnavais, pascoas, semanas santas, natais, tudo era igual, não havia o que comemorar. Apenas um ser a trabalhar dia e noite. Quando muito, um porre, aqui, outro acolá, uma baladinha de rock, com os amigos para neutralizar a dor real.

            Mas eu conhecia gente que morava do outro lado da parede, eles passavam por mim e nem me notavam, eu era apenas uma porta, apenas uma peça da engrenagem toda. Eles aproveitavam todos os feriados, fortais, rock rios, festas juninas, praias, viagens as serras, tinham folgas semanais, eram privilegiados e olhavam para o outro lado da parede apenas quando precisavam que servíssemos eles.

            Ainda existia outra porta, aquela dos excluídos por alguma deficiência, por serem moradores de rua, por pensarem diferente. Ninguém queria atravessar entre portas, todos queriam viver seus mundos, suas bolhas, suas teorias. Principalmente aqueles que tinham privilégios, esses não queriam perder as regalias, os bens materiais, não queriam deixar de ser cercados de puxa-sacos.

            A parede era poderosa, ela era feita de indiferenças, de egoísmos, de falsas promessas, de gente protegida pela herança. Na verdade, a parede era apenas uma desculpa, para as pessoas se afastarem e colocarem em si, uma áurea de poder. O grupo dos influencers, o grupo dos paparicados. O grupo dos puxa-sacos sacos de políticos, o grupo dos filhinhos de papais. O grupo dos especuladores, esses vivam torcendo por uma crise para lucrarem.

            Mas a parede também tinha de um lado, os que conseguiam parar para pensar no que realmente importava e do outro os que não sabiam nem o que faziam nesse mundo, eram apenas sobreviventes do caos.

             Aqueles que nutriam a força da parede eram, os que dela tiravam todo o lucro. Não queriam o fim dela, pois representava o fim dos seus privilégios, do seu poder de controlar as massas. Os poderosos dos algoritmos, da inteligência artificial, construíram sua própria parede, no metaverso, nessa parede, o controle se tornara completo e os sentidos eram subtraídos por desejos e ações imperceptíveis, criados e sem necessidade alguma.

            Para que não pudéssemos sair do nosso lado e ir para o outro lado da parede, éramos obrigados a viver ocupados, não conseguíamos ver claramente que, a parede era como o rico mantinha sua fortaleza, por meio de um Matrix. Tínhamos de parar de tomar a pílula, que nos entorpecia e deixar a cegueira desaparecer, só assim conseguiríamos ganhar força e avançar em busca de derrubar a parede e fazer com que a existência fosse uma realidade possível a todos.

Carlos Emanuel
Enviado por Carlos Emanuel em 23/07/2023
Código do texto: T7843706
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