O GOSTO AMARGO DO PRAZER
Certos prazeres vêm impregnados de algo nada bom. Por vezes, isso pode ser chamado de culpa ou medo. É um sentimento morno que fraqueja, titubeia, se faz trêmulo e quebradiço. Podemos nem perceber, ou admitir, essa rima adversa, fingindo que é algo que vem no bojo do que sentimos, fazendo parte do show e tudo bem. Nada disso. Aquele galope manco diz muito da gente, do que permeia determinadas veias do coração. Suas faces turvas, um tanto encardidas, traduzem o real sentido do passo, do voo, do tal gozar. Elas permeiam as querelas da alma com plena maestria, ditando rastros que ecoam os frutos do que temos de mais vivo e verdadeiro. São faíscas atônitas de um querer-bem arredio, surrado, que infesta as nossas pegadas e nos empalidece a alma, tornando-a indigesta e febril. Mas tempo, sábio toda vida, se encarregará de acalmar o tsunami, entoando cantigas de paz sem trégua, até tudo mandar o ruim pra bem longe. Então poderemos nos lambuzar de um prazer imaculado, lindo e feliz. Merecido e abençoado, finalmente.