TOLERÂNCIA DE RELIGIOSA

Minha mãe é uma senhora semianalfabeta de 84 anos. Ela me contou algumas coisas que aconteceram com ela nos últimos tempos que passamos sem conversar longamente, porque eu moro longe e não a vejo com muita frequência. Dois episódios narrados por ela me comoveram especialmente, vou tentar contar da forma mais fiel possível, destacando as palavras que ela usou para descrever o que aconteceu mais “do jeito dela”.

O primeiro foi em um ônibus. Ela estava sentada ao lado de uma mulher “bem arrumada” quando entrou “um rapazinho com uma mochila nas costas” e ficou parado, em pé, próximo ao banco onde minha mãe estava. Não demorou muito para que a mulher começasse a rir alto e “tirar sarro” do rapazinho só porque ele era “um pouco diferente”. Ela ria alto e “tirava sarro”, “ofendendo muito” o rapazinho, que ficou lá, quieto, sem dizer nada.

A mulher chamou a atenção do motorista e ele também começou a “tirar sarro” do rapazinho, que continuou quieto, só ouvindo as ofensas e as risadas da mulher e do motorista.

Minha mãe se mexeu incomodada, a mulher olhou para ela e, ainda rindo, disse: “A gente precisa se divertir um pouco já que a vida tá tão difícil, não é?”. Minha mãe fez questão de responder bem alto para o motorista e as outras pessoas que estavam ali vendo e ouvindo aquilo sem dizer nada escutarem: “Se fosse um filho ou um neto da senhora, a senhora também sentiria vontade de se divertir tirando sarro dele?”.

A mulher e o motorista não riram mais nem falaram mais nada.

O segundo episódio aconteceu no caminho da igreja. Uma “irmã” com quem ela não tem muito contato “empareou” com ela e começou a falar bem do Bolsonaro. Minha mãe foi andando quieta e deixou a mulher falar durante um bom tempo, até as duas quase chegarem à porta da igreja. Então a mulher disse: “A senhora não acha, irmã?” e minha mãe respondeu: “Não acho não. O Bolsonaro é um homem muito ruim, um homem que só faz maldade. E eu votei no Lula!”.

Eu perguntei: “E ela não brigou com a senhora?”. Minha mãe respondeu: “Não porque a gente já tinha chegado na igreja e eu entrei e fui sentar bem longe dela”.

Minha mãe é uma evangélica das mais fervorosas. Ela vai à igreja todo “santo” dia, e eu tenho muito respeito e sinto uma admiração enorme pela minha mãezinha porque ela consegue conviver com essa mentalidade preconceituosa, intolerante e absurda que tem causado tanto mal ao mundo, principalmente nos últimos anos, sem se deixar atingir.

Por isso, quando pessoas ateias generalizam as pessoas evangélicas como se todas elas fossem burras e intolerantes, penso logo na minha mãezinha, que está muito longe de merecer esse tipo de hostilidade. E tenho certeza de que ela não é a única.

Divina de Jesus Scarpim
Enviado por Divina de Jesus Scarpim em 22/07/2023
Código do texto: T7843424
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