DOCE ENCANTAMENTO (crônica)
A recordação faz-se presente:
— Quanto tempo? Quinze encontros a cada quinze dias e depois como o combinado: a despedida.
Relembrando mais:
— Encontrei-a na padaria. Tomava o seu café quando entornou-o na minha camisa. Ruborizada, pedia-me desculpas! Com guardanapo de papel e tolas tentativas procurava limpar o estrago. O mais importante é que eu sentia o seu perfume inebriante e um hálito doce atingindo o meu rosto como se fossem carícias: Carícias que há tempo não sentia de uma linda mulher. Graciosamente, insistia e só parou quando tomei-as pelas mãos e decretei que estava bem. Ela parou e me olhou com olhos atrevidos e verdes como esmeraldas— ah! falando comigo com os seus olhos —, como pedras lapidadas para serem joias valiosas. Fiquei estarrecido e inerte. Óbvio é que não se pode deixar uma linda mulher partir sem saber o seu nome. Insisti e muito!! Ela, atrevidamente, respondeu-me:
— Para que os nomes? Escolha um apelido baseando-se no que vê, tendo o olhar misterioso querendo encantar-me e conseguindo. Claro que eu não me faço nunca de rogado:
— Fadinha, disse-lhe mais rápido que os meus pensamentos de admiração. Descobria, naquele momento querendo ser mágico que uma fada encanta, enfeitiça e ababalha a boca de qualquer maduro.
A mulher? A menina? procurou em mim um comparativo e até o seu jeitinho de tentar; encanta a minha crônica:
— Você, um anjinho!! É isso mesmo, um anjinho!
Rimos. Gargalhei se bem lembro, mas ela ria risos mágicos, gostosamente perturbadores e provocantes:
— Anjinho e fadinha, eis o que somos a partir de agora, foi dizendo-me marotamente, naquela mistura de uma mulher sempre menina: Existente só nelas. Pensei: Estará o Universo escrevendo uma história? Revelando uma existente?
Após duas horas conversando estávamos na minha casa como conhecidos há séculos. Amando-nos... Como antigos amantes, aqueles que se descobriram parcialmente de propósito para que ocorra em cada encontro o que desbravar. Porém, regras foram impostas: quinze encontros de quinze em quinze dias para tudo acabar como sendo a exigência da fadinha; jamais revelar nomes foi a exigência do anjinho.
Os encontros foram mágicos, desenrolando uma aventura. Seria eterna a aventura? Traçadas pelos deuses? Pouca importância desde que se desenrolasse como que um segredo os seres guardariam as suas reminiscências, quando juntos vivenciam cada um o seu segredo sem se preocupar de ser roubado ou descoberto pela confiança absoluta reinando.
Quais segredos? Ora! Só posso revelar os meus: Esperava-a exausta e dormindo, permanecendo deitado ao seu lado, continuando admirá-la e prolongando os prazeres consumados. Além de sentir o alento suave de quem sonhava com os encantamentos acontecidos. Era o de levantar devagarinho o lençol, delicadamente, e percorrer o seu corpo com as pontas dos dedos sentindo-a úmida de intimidades e de claridade como a sua pele e cabelos.
Tem mais? Sim... Cobri-la de novo sabendo que não a teria para sempre, pois via um conto encantado com dois personagens de nomes fictícios e sugestivos. Tenho que aproveitar por tê-la juntinha ao meu corpo e adormecida, momentaneamente.
— Ah! Vai mais longe o meu segredo; é passar tempos admirando a sua silhueta de mulher na penumbra do quarto até cumprir o meu papel de guerreiro do dia que terá que dormir, também, profundamente como ela, misteriosamente como ela, pelos acontecimentos em cada encontro ao ponto de não ser capaz de acordar para vê-la sair. Sono profundo de um bem-feito encantamento; aquele bem feito pela minha fadinha; um benfeito para me usufruir pela vida afora.
Assim é que essa história foi-se escrevendo e sendo vivida. Porém toda história encantada começa com “era uma vez” tendo no enredo muitos “mas”. E, um dia, ela não mais apareceu. Todavia, como num encantamento, deixou no meu quarto: Seu perfume inebriante e a sua luz brilhante vinda de lindas esmeraldas.