SACO SECO
Francisco de Paula Melo Aguiar
Por incrível que pareça não faz muito tempo que existia um programa humorístico no principal canal televisivo do Brasil, que levava o público ao delírio com suas piadas para uns de bom gosto, para outros nem tanto, isso porque direta e indiretamente imitava a paródia dos invisíveis moradores de rua, drogados pela alienação nacional de que tudo ia mudar, de que todos são iguais perante a lei, que todos tem direito ao processo e ao julgamento justo, que todos tem o direito constitucional garantido de ir e vir em todo território nacional, etc.
Portanto, com o decorrer do tempo e andanças da carruagem nacional, o “saco seco” que já existia e era conduzido por um ator todo esfarrapado que dizia que tudo enche o “saco do pobre”, como se contracenasse, por analogia com a parábola televisiva global do “primo pobre e do primo rico”, no programa: balança mais não cai.
O povo ia ao delírio e achava que era feliz e não sabia, mesmo sabendo que saco seco não fica em pé.
Naquele tempo ainda não existia o bolsa família dando R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais para calar a boca dos invisíveis como acontece no momento.
O proselitismo nacional de dar tudo aos invisíveis é uma fábrica de ensinar o povo em idade de aprender uma profissão e desaprender o que naturalmente já sabe, isso porque é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe.
E os invisíveis continuam de saco seco...
Agora a realidade é outra, os invisíveis estão sendo visíveis e encurralados com a força policial nas grandes e pequenas cidades, sem levar em consideração o direito de ir e vir no território nacional, garantido na Constituição de 1988, decantada em versos e prosas no que se fere as garantias do Estado de Direito, ex-vi, o que aconteceu na semana que chega ao fim hoje, nas ruas e praças de São Paulo, como se o governador daquele Estado fosse dono da coisa pública e naquele chão só tem o direito de ir e vir quem ele quiser, como se os invisíveis drogados, alienados e maltrapilhos e/ou não, fruto das desigualdades sociais, não fossem nacionais, quando todos foram empurrados pelas barreiras policiais com armas empunho, recebendo ordens do quero, do posso e do mando temporário, para desocupar o que é do povo e deles também.
Essa gente precisa ser documentada, levada para tratamento médico e hospitalar, notificada pelas autoridades judiciais contra vadiagem que é crime, envolvê-la com políticas públicas, tais como moradias, comida e oportunidade de emprego e renda, lazer e compromisso de ressocialização ao longo do processo, porque tratá-la como irracionais é muito perigoso e não garante futuro de nada, um péssimo exemplo. Não que com isso venha acabar com os invisíveis e drogados nacionais e ou não entre nós.
Não se combate o crime fazendo crimes por parte do Estado.
Que falta faz o poeta grego Arato: “Pois nós realmente somos sua geração”, no dizer do apóstolo Paulo em Atos, capitulo 17, versículo 28, que por analogia, isso significa dizer que o homem “moderno” estoico representa uma pessoa indiferente ao prazer, à alegria e bem assim à tristeza e/ou à dor, isso bem presente nos milhões de sem nada invisíveis moradores de ruas do mundo de Deus e cuja propriedade é de ninguém.