Tragédias contemporâneas
Aconteceu semana passada. Zeca Piqueno, o auxiliar de padeiro que nas horas vagas faz vez de mágico, tentou fazer um truque de mágica com uma moeda e acabou fazendo a moeda desaparecer de verdade. Passada a intenção, Zeca Piqueno tentou durante várias horas reaver a moeda, mas até agora nada da moeda aparecer. Zeca Piqueno, desde então, nas horas vagas, deixou de fazer mágica com moeda e passou a fazer hora extra, para ver se recupera a moeda pelo modo tradicional.
João Trinta, conhecido filantropo municipal, morreu cinquenta anos atrás. Mas só agora, em 2050, sabe-se que João Trinta morreu aos 28 anos, vítima de infarte. Não deixou herdeiros de sua herança nenhuma, algo muito criticado ultimamente, só perdendo para a descoberta do judaísmo de João Trinta. Correção póstuma: "João Trinta, conhecido filantropo municipal e judeu, morreu aos 28 anos, de infarte".
Durante um passeio ao ar livre em via automotiva, um jovem de aproximados 20 anos e trinta e dois dentes estava tão distraído conversando ao telefone que entrou no banheiro feminino por engano. Ele só se deu conta do engano depois que o caso apareceu no Podcast "Pode Isso, Arnaldo?".
Esta não apareceu no Podcast do Arnaldo, ainda, mas já é de conhecimento de grande parte da juventude nacional, em razão do relevo humorístico: um aniversariante tentou soprar a vela do bolo de aniversário usando um extintor de incêndio. O bolo ficou coberto de espuma, e geral achou que era chantilly. Até hoje há quem não acredite que o recheio do bolo não era chantilly; os demais, são da opinião de que o bolo estava uma "dilícia".
Também conta como tragédia contemporânea o caso do cachorro que foi preso ao tentar roubar comida da prateleira de um supermercado municipal. O pobre animal, animal pobre, pegou três anos de detenção, sem direito à fiança, detalhe irrelevante, visto que se trata não apenas de um detalhe mas também do fato de ser o dogue descapitalizado. Quando lhe perguntam o que acha do seu caso, o pobre animal, animal pobre, responde que, pelo menos, na prisão ração não lhe falta.
"E sobre Dolores, opinista? Não vai dizer nada?"
Claro que vou. Porque Dolores é um dos casos dos mais sintomáticos, simbólicos, gramaticais idiomáticos contemporâneos nacionais. A começar por seu nome. Ao ser perguntada se gosta de seu nome, Dolores respondeu a um cronista que gostar não gosta não, mas, como é um nome bíblico, acostumou-se a ele. O cronista, muito enxerido, perguntou se Dolores é cristã. Dolores disse que é de Jaramataia, Alagoas. Então o chato ficou desconcertado, mudou de assunto e perguntou as horas a Dolores. Dolores ficou de lhe dizer. Até o momento, um momento, já se foram vários momentos, e Dolores não lhe revelou as horas.
Terá Dolores tomado Doril?