Estou sentado na cama, computador no colo, são duas horas da manhã e estou pensando em um tema para escrever essa crônica. Decidi pela crônica porque estou vivendo um completo ócio criativo. Não quero inventar uma estória, desenvolver personagens e nem ficar pensando em um final interessante. Em uma crônica posso simplesmente escrever sobre a realidade sem me preocupar em fantasiar. Porém, mesmo tentando escrever uma crônica, estou completamente vazio olhando para a tela do computador, viajando na voz e na música da Liniker.

          No meu ócio criativo, meu cérebro já entendeu que eu não quero fazer nada e simplesmente bloqueia qualquer tentativa de esforço mental. Escrever para mim é um momento de lazer, mas o ócio, como muitas pessoas pensam, não é um momento de lazer e sim um tempo livre que tiramos para não fazer absolutamente nada. O objetivo do ócio criativo é nos desligarmos de tudo, ficarmos em off total. Na era da tecnologia, das redes sociais alguém consegue se desligar de tudo? Quem hoje consegue ficar sozinho em contato consigo mesmo, fazendo uma auto avaliação profunda? Sair das redes sociais direto para a realidade. Se temos a certeza que somos imperfeitos por que essa busca voraz pela perfeição? Se temos consciência da irrealidade da internet por que usamos tinder, grindr ou o instagram quando queremos conhecer uma pessoa? Se usarmos o ócio criativo apenas para responder essas perguntas, será que conseguiremos sobreviver no mundo real? O ócio criativo é essencial para a nossa saúde mental, mas muito desgastante emocionalmente e corremos o risco de no final nos tornarmos pessoas mais orgânicas e reais. Será que queremos uma mudanças tão radical?

          Ops....meu ócio criativo foi interrompido. Devo dizer salvo pelo gongo ou por essa crônica? Não sabia sobre o que escrever e acabei realmente escrevendo sobre a realidade. Será que meu ócio criativo está funcionando? Talvez sim, talvez não, mas o fato é que questionar uma perfeição que não existe, fez com que minhas imperfeições ficassem lindas e leves. O peso de ser obrigado a ser o que não sou, estar aos poucos indo embora. Que meu ócio criativo seja a chave para uma vida mais profunda e significativa.

         Agora com licença que vou me desligar do mundo novamente. Tchau!

José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 21/07/2023
Reeditado em 21/07/2023
Código do texto: T7842615
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