Insônia
Noite de inverno. Friozinho, entretanto, caloroso, vagueia comigo pela sala, pela cozinha e, de vez e outra, uma fuga pela varanda. Vagueio dançante, um tanto descompassado.
Na estante, propostas de leituras interessantes. Um pouco de autoajuda; um tanto de poesias e prosas poéticas; e, na maior parte, algumas crônicas; e, no mais, inutilidades; ou seja, conversas para serem jogadas fora.
Outras sugestões: uma boa música; uns clássicos vienenses; um “vinhozinho”, acompanhado de um violão, no canto da sala.
É madrugada, nos populares “altas horas”, aqui dentro o silêncio reinante; lá fora, ronda-se o perigo, apesar das luzes amenamente acesas, clareando os passos da poesia da noite, como se fosse num balouçar de uma embarcação ao remanso de águas calmas; o silêncio pode ser produto de ilusões; perspicácias noturnas.
Os olhos não se fecham. Li um artigo, dias atrás, que dizia que, quando a insônia chega, não adianta espantá-la; o melhor é conviver com ela, companheira da noite, e montar uma boa prosa; afinal, ninguém morre de insônia, dizia o artigo.
É bem verdade! Enquanto estamos acordados, estamos vivos.
Nos vaivéns pela sala, cozinha e varanda, o pensamento é o meio de prosa possível com os amigos invisíveis, companheiros das insônias.
Sentados no sofá, sugestões a isto ou àquilo, ou a acolá, remontam-se lembranças... doces recordações, muitas nem tanto; formam-se, na mente, saudosos quadros de parede...
A madrugada segue. Lá fora, transeuntes em bate-papos; roncos de motores; uma ave deu sinal de vida. Daqui a pouco, a alvorada. A insônia continua...
Na mesa, uma caneta; um pedaço de papel e um computador... Uma boa ideia, plausível por sinal, em meio à insônia!
Assim, vagueando entre ideias e rabiscos, acabei, em mal ou bem traçadas linhas, compondo esta crônica.
Enfim, o sono chegou!