Couve rasgada

Tirando um tempinho aqui, após encaminhar o almoço do dia. Nessa minha nova função de cozinheiro, acabei me lembrando do meu pai, numa ocasião em que ele se propôs a preparar o jantar.

Minha mãe estava ausente, talvez em visita a minha avó Ana, em Pedro Leopoldo, ou em algum outro compromisso. Meu pai, que sempre vivia numa correria muito grande, ficou com a incumbência de preparar a comida. Meio desajeitado, talvez pela pressa ou pelo cansaço de ter passado o dia inteiro trabalhando, o fato é que ele fazia tudo apressadamente e de uma maneira, digamos, muito rústica, em relação ao que minha mãe, pela experiência e pela paciência, fazia rotineiramente preparando os alimentos.

Ela cortava a couve, almeirão, repolho ou alface sempre bem fininho com todo cuidado. Aqueles fios praticamente da couve que ela picava e depois refogava ficavam realmente deliciosos.

Mas, meu pai, de forma diferente, pegou couve e foi rasgando simplesmente e colocando numa vasilha e me dizia:

- Olha, esta é a melhor couve que existe, mais fácil de fazer e muito mais gostosa do que picadinho.

Na verdade, ele só conseguiria fazer daquela forma. Não teria paciência para picar adequadamente.

Talvez pela fome, talvez pelo inusitado da ação dele achei deliciosa aquela couve que ele preparara.

No outro dia, quando contei para minha mãe a novidade, elogiando,inclusive, os dotes culinários de meu pai, ela achou muita graça e asseverou que, na hora do almoço, teria uma conversa séria com ele. Onde já se viu preparar couve rasgada de qualquer jeito!

No fundo, no fundo, acho que ela ficou mesmo foi enciumada com os rasgados elogios que eu fizera à couve rasgada do meu pai.

Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 21/07/2023
Código do texto: T7842186
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