Receita do Bruxo
PENSO que a maioria das pessoas que escreve já ouviu alguém perguntar o que é uma crônica. Sim, porque sendo os entendidos, a crônica difere do artigo, do ensaio e de outros escritos em forma de prosa.
Pessoalmente não ligo para o assunto. Fico com aquela definição de Mário de Andrade sobre o conto, que conto é tudo aquilo que chamamos de conto. Eu chamo de crônica tudo que escrevo em prosa. E de poesia as minhas acanhadas e ridículas letras de música. Mas reconheço, juro, que sou um iletrado é um mero escrevinhador de arengas que chama de crônicas. Uma agressão ao gênero.
Então quando alguém me pergunta o que é crônica, saco imediatamente da carteira um papelzinho onde anotei o que o Bruxo de Cosme Velho, Machado de Assis, definiu a origem da crônica. Ele escreveu:
“Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica, mas há toda a probalidade de crer que foi coetânea das duas primeiras vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dizia que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopada do que as ervas que comerá. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural é possível do mundo. Eis a origem da crônica”.
Alguém discorda do Bruxo? Só vai rindo. William Porto. Inté.