A ARTE DA CONVERSA
Estou desaprendendo a arte da conversa. Não sei se isso é o resultado do isolamento que passei por conta da pandemia, o fato é que eu, que já era calado, hoje passei a ser quase mudo. E não sei até que ponto isso é bom: algumas pessoas deveriam ser evitadas numa conversa. Mas outras são necessárias. E nem sempre eu sou simpático como deveria, um pouco por surdez parcial, um pouco por casmurrice adquirida.
Mas já tive melhores dias. Houve um tempo, nem tão distante assim, que dei palestras sobre Cadastro Único no CRAS e até na universidade. Sim! Acredite quem quiser, eu sei falar! A questão é que isso anda meio escondido, por conta das circunstâncias da vida e uma séria tendência à depressão e a me tornar introspectivo. Respondo às tentativas de bom dia, mas temo que já não seja mais capaz de começar ou continuar uma conversa agradável. E a tendência de eu ser evitado - por que o que agrada é quem fala demais, embora muitas vezes sem nada dizer - como um ser estranho é grande.
Mas garanto que bem no fundo, sou um sujeito normal e até simpático. A questão é que me fecho, como uma concha ou uma tartaruga, quando o normal é falar pelos cotovelos, ainda que nem sempre com conteúdo.
Conversar para mim requer afinidade, gostos em comum e simpatia pela outra pessoa. Acontece, mas nem sempre, pois de regra sou um sujeito fechado e sistemático.
O que nos remete aquela discussão: é melhor ser introvertido ou extrovertido?
Os introvertidos foram abordados em um livro que já citei aqui: O PODER DOS QUIETOS, de Susan Cain, onde a autora fala das vantagens e qualidades dos introvertidos, elencando nomes de introvertidos famosos, como o cineasta Steven Spielberg, o físico Albert Einstein e o empresário Bill Gates. Estou em boa companhia.
Acredito, como já falei naquele texto, que extrovertidos e introvertidos podem conviver numa boa, quiçá até casar. Um fala mais, o outro pensa mais e os opostos às vezes se atraem. Mas ainda não encontrei minha extrovertida, embora tenha vivido com duas que falavam pelos cotovelos - na maioria das vezes com conteúdo, graças a Deus.
O que estou querendo dizer com toda essa encheção de linguiça é que não gosto de ser calado em excesso. Deus queira que eu ainda não tenha desaprendido a arte da simpatia e da conversação.
Por que evoluímos para uma convivência que deve ser salutar e agradável desde que o homem dava paulada no outro homem quando se encontravam na savana primitiva. Ou arrastava a fêmea pelos cabelos até a caverna para copular e garantir a sobrevivência da espécie. Que nem sempre se mostra tão humana quanto deveria, mesmo em tempos ditos modernos e avançados.