MULHER, VOCÊ GOSTARIA DE TER VIVIDO NA METADE DO SÉCULO PASSADO?
Abrindo uma mensagem no WhatsApp por estes dias me deparei com algo que me chamou muito a atenção. E, apesar de estar classificada como sendo “de humor”, procurei analisar o seu conteúdo a partir d’uma outra ótica, digamos assim, mais “antropológica” ou dentro de uma visão de “Psicologia Social”, ou mesmo, sociológica. Ou seja, busquei ver de forma mais séria.
Procurarei ser mais claro, ao que irei direto ao ponto. Na devida mensagem (ainda que seja bem conhecida) foi apresentado frases em revistas conceituadas de época, mais especificamente, do início do século XX até o final dos anos 50. E, respeitando a vontade do dono do site (em função de direitos autorais), tomei a liberdade de anexá-las neste meu trabalho, onde, optei em apresentá-las de forma mais “visual”, ao que para isto, trabalhei com programas de edição de imagens.
Farei agora (principalmente para o público feminino) uma pergunta do estilo “antes e depois” de conhecer realmente alguns fatos. Sendo assim, vamos lá:
- Mulher, você gostaria de ter vivido na metade do século passado?
Ora, chega a ser comum muitas vezes ouvirmos aquela expressão: “Os temos antigos é que eram bons, onde se havia mais respeito”. E, deste modo, a impressão que se dá é que sempre o atual tempo é ruim, onde conscientes (do que se diz ou não), usamos d’uma fala negativa ao período em que vivemos.
E é nest’hora que torno a perguntar (sobretudo para elas):
- Mulher, você gostaria de ter vivido na metade do século passado?
Ou então, a pergunta melhor seria:
- Você sabe como era o “inconsciente coletivo” daquele período?
Pois bem, apresentarei o conteúdo do que recebi na mensagem, onde, como disse, procurei anexá-las em um espaço visual, a fim de chamar melhor a atenção do leitor.
A fonte da mensagem: https://www.marcoeusebio.com.br/coluna/frases-de-revistas-femininas-dos-anos-50-e-60/34529
O CONTEÚDO DAS MENSAGENS:
"Sempre que o homem sair com os amigos e voltar tarde da noite, espere-o linda, cheirosa e dócil". (Jornal das Moças, 1958).
"O noivado longo é um perigo, mas nunca sugira o matrimônio. Ele é quem decide – sempre". (Revista Querida, 1953).
"Se o seu marido fuma, não arrume briga pelo simples fato de cair cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa". (Jornal das Moças, 1957).
"Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas". (Jornal das Moças, 1957).
"Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto, sem questioná-lo". (Revista Cláudia, 1962).
"O lugar de mulher é no lar. O trabalho fora de casa a masculiniza". (Revista Querida, 1955)
"A mulher deve estar ciente que dificilmente um homem pode perdoar uma mulher por não ter resistido às experiências pré-nupciais, mostrando que era perfeita e única, exatamente como ele a idealizara". (Revista Cláudia, 1962).
"Mesmo que um homem consiga divertir-se com sua namorada ou noiva, na verdade ele não irá gostar de ver que ela cedeu". (Revista Querida, 1954).
"A desordem em um banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa". (Jornal das Moças, 1965).
"A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, servindo-lhe uma cerveja bem gelada. Nada de incomodá-lo com serviços ou notícias domésticas". (Jornal das Moças, 1959).
"É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido". (Jornal das Moças, 1957).
Bom, não estou agora a querer fazer uma crítica à conduta machista, esta que já se encontra enraizada em nossa cultura desde os tempos bíblicos. Aliás, a própria Bíblia contém muitos trechos que hoje poderiam ser muito bem classificados como sendo “machistas”.
Citarei aqui alguns versículos:
“Mulheres, cada uma de vós seja submissa ao próprio marido” (Colossenses 3:18);
“A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio” (1 Timóteo 2: 11,12);
“As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor, porque o marido é o chefe da mulher” (Efésios 5:22);
“Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver, a não serem caluniadoras nem escravizadas a muito vinho, mas a serem capazes de ensinar o que é bom” (Tito: 2:3);
“... a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem bondosas e sujeitas a seus próprios maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada” (Tito 2: 5)
“... todas as mulheres darão ainda mais honra aos seus maridos, do mais rico ao mais pobre” (Ester 1:20);
“O homem não deve cobrir a cabeça, visto que ele é imagem de Deus; mas a mulher é a glória do homem. Pois o homem não se originou da mulher, mas a mulher do homem, além disso, o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem” (1 Coríntios 11: 7- 9);
“Da mesma forma, quero que as mulheres se vistam modestamente, com decência e discrição, não se adornando com tranças, nem ouro, nem, pérolas, nem roupas caras” (1 Timóteo 2:9);
“Vós, também, ó mulheres, sede submissas aos vossos maridos” (I Pedro: 3 -1).
E por aí vai ...
Bom, não tenho aqui nenhuma pretensão de difamar a Bíblia e nenhum outro livro que seja considerado “sagrado”. Os países de teocracia islâmica até hoje vivem como se estivessem na Idade Antiga. Mas, o meu foco neste trabalho foi mostrar que durante muito tempo houve, certamente, uma adaptação da mulher ao meio, no que ela aceitou (sem se revoltar, talvez!?) uma condição de inferioridade [ao homem] durante séculos. E tal postura foi herdada (e esticada no tempo) a que poderíamos traduzir isto como o “inconsciente coletivo” no que se viu antes, e que em muitas culturas ainda persiste.
Bem, acredito que muitas se revoltavam sim, porém demoraram demais para acreditar que teriam direitos sagrados (já que antes eram “adestradas" (oh! que [elas] me desculpem pelo referido termo) a acreditar que só tinham “obrigações”, e nenhum direito).
Sendo assim, os movimentos feministas foram um verdadeiro grito de revolta e indignação por parte “delas”, ou seja das que não aceitavam aquela situação. E, é como se diz: “quem cala, consente”, que poderia ser também dito d’outra forma: “quem não luta por seus direitos é porque se acovarda, no que se acomoda com a violência de que recebe”. Ou você, mulher, concorda com as palavras provocadoras daquele que certa vez disse: “O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris” (Millôr Fernandes)?
E então, perceberam por que eu não quis qualificar o texto na categoria de “humor”? O assunto é sério. E você, mulher, gostaria de ter vivido na metade do século passado ou nos tempos bíblicos?
Carlos Renoir
Rio de Janeiro, 19 de julho de 2023
LIVROS QUE EU INDICO:
“DICIONÁRIO MACHISTA” – Salma Ferraz
“MULHERES DE CABUL” – Harriet Logan
ILUSTRAÇÕES: Imagens da Internet e capas de revistas antigas mencionadas, sendo por mim trabalhadas em programas de edição de imagens.
MÚSICA: “AI QUE SAUDADE DA AMÉLIA” – Com Nelson Gonçalves
https://www.youtube.com/watch?v=2SZkPzy7cxk
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FORMATAÇÃO SEM AS ILUSTRAÇÕES:
MULHER, VOCÊ GOSTARIA DE TER VIVIDO NA METADE DO SÉCULO PASSADO?
Abrindo uma mensagem no WhatsApp por estes dias me deparei com algo que me chamou muito a atenção. E, apesar de estar classificada como sendo “de humor”, procurei analisar o seu conteúdo a partir d’uma outra ótica, digamos assim, mais “antropológica” ou dentro de uma visão de “Psicologia Social”, ou mesmo, sociológica. Ou seja, busquei ver de forma mais séria.
Procurarei ser mais claro, ao que irei direto ao ponto. Na devida mensagem (ainda que seja bem conhecida) foi apresentado frases em revistas conceituadas de época, mais especificamente, do início do século XX até o final dos anos 50. E, respeitando a vontade do dono do site (em função de direitos autorais), tomei a liberdade de anexá-las neste meu trabalho, onde, optei em apresentá-las de forma mais “visual”, ao que para isto, trabalhei com programas de edição de imagens.
Farei agora (principalmente para o público feminino) uma pergunta do estilo “antes e depois” de conhecer realmente alguns fatos. Sendo assim, vamos lá:
- Mulher, você gostaria de ter vivido na metade do século passado?
Ora, chega a ser comum muitas vezes ouvirmos aquela expressão: “Os temos antigos é que eram bons, onde se havia mais respeito”. E, deste modo, a impressão que se dá é que sempre o atual tempo é ruim, onde conscientes (do que se diz ou não), usamos d’uma fala negativa ao período em que vivemos.
E é nest’hora que torno a perguntar (sobretudo para elas):
- Mulher, você gostaria de ter vivido na metade do século passado?
Ou então, a pergunta melhor seria:
- Você sabe como era o “inconsciente coletivo” daquele período?
Pois bem, apresentarei o conteúdo do que recebi na mensagem, onde, como disse, procurei anexá-las em um espaço visual, a fim de chamar melhor a atenção do leitor.
A fonte da mensagem: https://www.marcoeusebio.com.br/coluna/frases-de-revistas-femininas-dos-anos-50-e-60/34529
O CONTEÚDO DAS MENSAGENS:
"Sempre que o homem sair com os amigos e voltar tarde da noite, espere-o linda, cheirosa e dócil". (Jornal das Moças, 1958).
"O noivado longo é um perigo, mas nunca sugira o matrimônio. Ele é quem decide – sempre". (Revista Querida, 1953).
"Se o seu marido fuma, não arrume briga pelo simples fato de cair cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa". (Jornal das Moças, 1957).
"Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas". (Jornal das Moças, 1957).
"Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto, sem questioná-lo". (Revista Cláudia, 1962).
"O lugar de mulher é no lar. O trabalho fora de casa a masculiniza". (Revista Querida, 1955)
"A mulher deve estar ciente que dificilmente um homem pode perdoar uma mulher por não ter resistido às experiências pré-nupciais, mostrando que era perfeita e única, exatamente como ele a idealizara". (Revista Cláudia, 1962).
"Mesmo que um homem consiga divertir-se com sua namorada ou noiva, na verdade ele não irá gostar de ver que ela cedeu". (Revista Querida, 1954).
"A desordem em um banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa". (Jornal das Moças, 1965).
"A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, servindo-lhe uma cerveja bem gelada. Nada de incomodá-lo com serviços ou notícias domésticas". (Jornal das Moças, 1959).
"É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido". (Jornal das Moças, 1957).
Bom, não estou agora a querer fazer uma crítica à conduta machista, esta que já se encontra enraizada em nossa cultura desde os tempos bíblicos. Aliás, a própria Bíblia contém muitos trechos que hoje poderiam ser muito bem classificados como sendo “machistas”.
Citarei aqui alguns versículos:
“Mulheres, cada uma de vós seja submissa ao próprio marido” (Colossenses 3:18);
“A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio” (1 Timóteo 2: 11,12);
“As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor, porque o marido é o chefe da mulher” (Efésios 5:22);
“Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver, a não serem caluniadoras nem escravizadas a muito vinho, mas a serem capazes de ensinar o que é bom” (Tito: 2:3);
“... a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem bondosas e sujeitas a seus próprios maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada” (Tito 2: 5)
“... todas as mulheres darão ainda mais honra aos seus maridos, do mais rico ao mais pobre” (Ester 1:20);
“O homem não deve cobrir a cabeça, visto que ele é imagem de Deus; mas a mulher é a glória do homem. Pois o homem não se originou da mulher, mas a mulher do homem, além disso, o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem” (1 Coríntios 11: 7- 9);
“Da mesma forma, quero que as mulheres se vistam modestamente, com decência e discrição, não se adornando com tranças, nem ouro, nem, pérolas, nem roupas caras” (1 Timóteo 2:9);
“Vós, também, ó mulheres, sede submissas aos vossos maridos” (I Pedro: 3 -1).
E por aí vai ...
Bom, não tenho aqui nenhuma pretensão de difamar a Bíblia e nenhum outro livro que seja considerado “sagrado”. Os países de teocracia islâmica até hoje vivem como se estivessem na Idade Antiga. Mas, o meu foco neste trabalho foi mostrar que durante muito tempo houve, certamente, uma adaptação da mulher ao meio, no que ela aceitou (sem se revoltar, talvez!?) uma condição de inferioridade [ao homem] durante séculos. E tal postura foi herdada (e esticada no tempo) a que poderíamos traduzir isto como o “inconsciente coletivo” no que se viu antes, e que em muitas culturas ainda persiste.
Bem, acredito que muitas se revoltavam sim, porém demoraram demais para acreditar que teriam direitos sagrados (já que antes eram “adestradas" (oh! que [elas] me desculpem pelo referido termo) a acreditar que só tinham “obrigações”, e nenhum direito).
Sendo assim, os movimentos feministas foram um verdadeiro grito de revolta e indignação por parte “delas”, ou seja das que não aceitavam aquela situação. E, é como se diz: “quem cala, consente”, que poderia ser também dito d’outra forma: “quem não luta por seus direitos é porque se acovarda, no que se acomoda com a violência de que recebe”. Ou você, mulher, concorda com as palavras provocadoras daquele que certa vez disse: “O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris” (Millôr Fernandes)?
E então, perceberam por que eu não quis qualificar o texto na categoria de “humor”? O assunto é sério. E você, mulher, gostaria de ter vivido na metade do século passado ou nos tempos bíblicos?
Carlos Renoir
Rio de Janeiro, 19 de julho de 2023
LIVROS QUE EU INDICO:
“DICIONÁRIO MACHISTA” – Salma Ferraz
“MULHERES DE CABUL” – Harriet Logan