CADÊ A PRAÇA?
Francisco de Paula Melo Aguiar
Preliminarmente, desculpem os mandatários (autoridades) e os mandantes (o povo) que não gostam de pedidos de informações e prestações de contas da coisa pública, cuja liberdade magna encontra-se na Constituição do Brasil de 1988 [o Inciso XIV do artigo 5º da Constituição de 1988 estipula que, no Brasil, é assegurado o direito de informar, de se informar e de ser informado, permitindo o livre acesso à informação e a dados públicos e privados que são de relevância popular], ainda que por analogia, onde: “Os cidadãos são os depositários de um bem, do qual a comunidade tem direito a pedir contas. Os bárbaros e os escravos detestam a ciência e não respeitam as obras de arte. Os homens livres as amam e conservam”, ex-vi, a Convenção Nacional Francesa, promulgada em 1794 (RIVIERA, 1997).
O prefeito nomeado de Santa Rita, o Tenente Francisco Pedro, ainda na década de 30 do século XX, derrubou a Praça da Matriz, pela primeira vez, quando tirou o cruzeiro ali existente desde o tempo do Padre Manoel Gervásio Ferreira da Silva, que chegou em Santa Rita em 1874, onde fez carreira religiosa e política na chefia municipal e que foi 2º vice governador da Paraíba e aqui faleceu em 1916, ex-vi Aguiar (2015).
Por outro lado, o Tenente Ferreira, fixou o cruzeiro que era antes na praça da Matriz no centro do cemitério público, onde atualmente se encontra construido o Mercado Público Central de Santa Rita (AGUIAR, 2020), portanto, retirou o aterro da referida praça para nivelar as ruas do centro da cidade e construiu a praça da Matriz segundo sua visão administrativa.
A nossa atual Praça Getúlio Vargas, que também já teve outros nomes: Praça da Matriz e Praça Dom Pedro II (AGUIAR, 2016, p. 64), foi totalmente derrubada e construída pela segunda vez, segundo a vontade do prefeito Flávio Ferreira Maroja Filho em 1949/50.
É importante salientar de que quando a Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi construída em 1852 por Aluízio Silva, rico comerciante e proprietário rural de Santa Rita, aquele patrimônio histórico nacional não tinha a atual escadaria naquela altitude em termos de dimensão arquitetônica, bem como a escadaria atual do próprio Santuário Matriz de Santa Rita de Cássia, tudo aquilo foi provocado pela retirada do barro ali existente pelas administrações antes mencionadas.
É importante também salientar de que em 1970, na administração do prefeito Antônio Aurélio Teixeira de Carvalho, a arquitetura da referida praça foi novamente derrubada e (re)construída uma nova praça, isso pela terceira vez, e foi justamente neste período em que a história daquele "monumento" público perdeu o famoso “Coreto do camaleão", constante atualmente apenas de fotografias antigas da lavra do fotógrafo Viegas, para as novas gerações, bem como o "Coreto Circular" existente na extremidade da praça com a Rua 29 de Julho. E a praça que foi derrubada e (re)construída pelos prefeitos Teixeira e Morais, foi novamente “derrubada” e construída pelos ex-prefeitos Severino Maroja e Marcus Odilon que derrubou e reconstruiu a dita praça com fonte de água luminosa e pedras selecionadas de melhor qualidade existente até então conhecidas para edificações de praças, etc, isso faz menos de duas décadas, porém, mais uma vez, até se chegar a versão atual de terra arrasada e ou de terra batida da administração em andamento, que derrubou a Praça Getúlio Vargas e esqueceu de reconstruir a mesma até a presente data, o principal cartão postal da cidade e nada tem haver com a sua origem em termos de arquitetônicos, históricos, geográficos e sociais, pois, a nossa sociedade e a gestão pública nada preservou para as novas gerações e que se antecipou e/ou mudou antes do mundo mudar, somos apenas uma representação da realidade cosmopolita de nossa antropologia em termos de homem e humanidade, onde presume-se de que em termos políticos o que fulano fez com o dinheiro público, o “eu” vou destruir e fazer de novo com o mesmo dinheiro público que é para não ficar “pedra sobre pedra”, que aquele fulano nada fez.
E o centro de Santa Rita, o nosso marco zero de nossa fundação e emancipação que fique sem sua historicidade de pedra e cal.
É por isso que Santa Rita fica sempre para depois e o nosso povo sonhando...
Até a vegetação da Praça da Matriz não é mais a
primitiva.
Outrossim entendemos que a vida cotidiana acontece no parque, na rua, assim como na praça como local certo para "ver" e bem assim para "ser" visto direta e indiretamente por todos como local de troca e de contato pleno com a cidade grande, seja ela uma metrópole ou uma cidade pequena e ou um povoado ou lugarejo por sua população.
E até porque as artérias e as praças são: "espaços que possibilitam o encontro anônimo e a presença mútua de diferentes grupos sociais; é o lugar das indiferenças, onde tudo deve submeter-se às regras da civilidade", ex-vi Gomes (2002, p. 162, apud MIÑO, 2004, p. 16).
E a praça Getúlio Vargas ou da Matriz tem essa função social, portanto, não pode continuar fechada como está para o povo santaritense enquanto dono de tudo que é público por aqui.
Ressaltamos ainda, segundo Serpa (2007, p. 19) que a praça deve garantir ‘’uma acessibilidade generalizada e irrestrita, um espaço acessível a todos deve significar [...] mais do que simples acesso físico a espaços abertos de uso coletivo’’ e ou seja a "facilidade de acesso, qualidade do que é acessível" (Dicionário Michaelis, 1998).
E assim a obra de (re)construção da praça Getúlio Vargas está parada e a população sem acesso ao local público para não vê a banda passar, antes a mesma tinha dois coretos, o do camaleão e o da banca de revista, que também servia de abrigo para a população esperar os ônibus para ir à capital.
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REFERÊNCIAS
AGUIAR, Francisco de Paula Melo. A gestão do Tenente. Recanto das Letras. 2020. Disponível In.: <https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6884222>.
_______________________. Santa Rita, Sua História, Sua Gente. 2ª ed., São Paulo: Autores, 2016. Disponivel in.: <https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6404665>.
_______________________. Padre Ferreira. Recanto das Letras, 2015. In.: <https://www.recantodasletras.com.br/artigos/5491843>.
MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998-(Dicionários Michaelis). 2259p.
MIÑO, O. A. S. Os espaços da sociabilidade segmentada: a produção do espaço público em Presidente Prudente. Presidente Prudente: 2005. 221 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente – SP.
RIVERA, Javier, Restauracion Arquitectonica desde los Origenes Hasta Nuestros Dias. Conceptos, Teoria e Historia, em: Teoria e Historia de la Restauracion, tomo 1, MRRP, Editorial Munilla-Leria, (1997).
SERPA, A. O espaço público na cidade contemporânea. São Paulo: Contexto, 2007.
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FOTOGRAFIA: Arquivo particular de Francisco Aguiar / Autor: Foto Viégas (1969).