Vampira

A campainha de Lúcia toca pela terceira vez. Ela abaixa o fogo das panelas, ajusta o avental e corre para atender a porta.

- Oi, vizinha - disse Eva, parada com as mãos na cintura batendo o pé no chão - sumiu, vim aqui ver se não morreu.

- Oi, Eva - respondeu Lúcia - entre, estou preparando o almoço.

- Hum! O que está fazendo de bom?

- Arroz, feijão, beterraba, costela com mandioca e polenta. A salada é de tomate com vagem e chuchu.

- Que delícia, mas me diga, como estão as coisas entre você e Mauro?

- Estão ótimas. Paramos com as brigas, graças a Deus.

- Muito bom, você acha que vai durar? Sabe como é, né? O Mauro hoje está bem, amanhã já enloca, quebra as coisas, bota você para fora de casa.

- Não. Isso não vai mais acontecer, nós estamos tomando muito cuidado.

- Está bom então - Disse Eva abrindo a geladeira só para ver o que havia dentro - E seu filho? Parou de dar problemas?

- Sim. Está casado, empregado e já voltou a falar com o pai dele.

- Que bom, será que vai sossegar? Vocês gastaram horrores com ele. Faculdade, carteira de motorista, intercâmbio, muito dinheiro jogado fora.

- Ele é um bom garoto, agora se encontrou na vida. Quem nunca se perdeu?

- Você tem razão.

Eva seguiu andando pela cozinha, mexendo nas coisas e sempre especulando.

- O cheiro está bom, disse ela.

- Sim. Estou caprichando.

- Vi na rede social que você e Mauro foram viajar. Como eu não soube disso antes?

- Decidimos de uma hora para outra - Respondeu Lúcia um pouco seca - mas e você como está?

-Ah, não muito bem. Sinto tonturas, dores de cabeça, coluna, meus olhos estão me abandonando. Tenho me sentido sozinha, sem dinheiro até para comprar meu pantoprazol. Tem dias que quase morro de dor, mas a vida é assim.

- Precisa se cuidar melhor. Se quiser dinheiro para o remédio eu empresto, mas Mauro não pode saber.

- Aceito sim, pago quando receber a parcela do meu auxílio.

Lúcia foi ao quarto, pegou uma nota de cinquenta reais de dentro de uma lata e trouxe para Eva.

- Aqui, pegue. E lembre que é segredo.

- Obrigada, amiga. Já ia esquecendo, sua mãe continua internada no hospício?

- Sim.

- Que coisa, uma mulher saudável, cheia de vida, depois de velha tentando se matar por causa de homem.

- Complicado mesmo. Disse Lúcia colocando as verduras numa bacia para lavar.

- Bom. Tô indo lá esquentar minha sopa. Até mais.

Lúcia secou as mãos no avental e acompanhou Eva até a porta. Ao abrir, Mauro estava chegando para almoçar. Ele fez uma expressão facial séria, de pouco amigos.

- Olá, vizinho. Disse Eva.

-Oi. Respondeu Mauro.

Eva saiu pelo portão e antes de Lúcia fechar a porta, ela gritou.

- Obrigado por me emprestar o dinheiro, almoçarei e já irei

à farmácia.

Lúcia fechou a porta e Mauro, furioso, aguardava com um questionamento:

- Que dinheiro é esse que você emprestou para ela?