ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (68): O Algodãozinho Divino e a Sinfonia do Silêncio.
Era um domingo desses de sol radiante, daqueles que convidam à preguiça e ao "dolce far niente". Enquanto a cidade se entregava ao merecido descanso, eu me via mergulhado em um mar de inquietação, acompanhado pela sinfonia infernal que ecoava pelos alto-falantes da igreja vizinha.
Nesse dia sagrado, eu esperava encontrar a paz e a serenidade que tanto ansiava, mas, para minha surpresa, era confrontado com uma torrente de palavras vazias e ensurdecedoras. A verborreia eletrônica, como um tsunami sonoro, invadia o ar e preenchia cada canto da vizinhança.
Olhando ao meu redor, eu percebia que não estava sozinho nessa batalha contra a poluição sonora. Os imóveis ao redor da igreja, outrora abrigos de tranquilidade, agora se viam desvalorizados por esse intruso ruído que se infiltrava pelas janelas e se enraizava nas paredes.
Contudo, enquanto meus ouvidos clamavam por um refúgio, uma ideia peculiar tomou conta de minha mente. Eu me peguei imaginando se Deus, em sua infinita paciência, não estaria usando um algodãozinho celestial para não ouvir tamanha cacofonia. Talvez ele também precisasse de um momento de silêncio em meio ao caos, assim como nós, meros mortais.
E ali, naquele instante, a sinfonia do silêncio se fez presente em meu coração. Enquanto a verborragia ecoava, eu me entregava ao encanto do silêncio, deixando-me levar por suas melodias sutis e reflexivas. Afinal, era no vazio dos sons que encontrávamos espaço para ouvir nossa própria voz interior, para refletir sobre nossas inquietações e buscar respostas para nossos questionamentos mais profundos.
Enquanto as palavras desprovidas de sentido se perdiam no ar, o silêncio se revelava como um portal para a conexão com a essência divina, uma ponte para a introspecção e a paz interior. Era ali, na ausência de barulho, que a verdadeira comunhão com o divino se estabelecia.
Olhando para trás, vejo o contraste entre a cacofonia e o silêncio, entre a poluição sonora e a serenidade que tanto buscamos. E transmito aos leitores esta mensagem impactante: não permitam que a voracidade dos ruídos obscureça a importância do silêncio, do espaço para a reflexão e para o encontro consigo mesmos.
Pois é no silêncio que encontramos nossa verdadeira voz, onde nossos pensamentos ecoam com clareza e onde a divindade se revela em cada suspiro. Que possamos valorizar a sinfonia do silêncio em meio a um mundo barulhento, pois é nesse espaço que a alma encontra seu verdadeiro refúgio e se conecta com o sagrado que habita em todos nós.