DIA DA MENTIRA

1° de abril é popularmente conhecido como o dia da mentira, ou dia dos bobos.

Consta que a brincadeira sobre o dia da mentira surgiu na França. Desde o começo do século XVI, o ano-novo era comemorado em 25 de março, com a chegada da primavera. As festas, que incluíam troca de presentes e animados bailes noite adentro, duravam uma semana, terminando em 1º de abril.

Em 1562, porém, o papa Gregório XV instituiu um novo calendário para todo o mundo cristão – o chamado calendário gregoriano – em que o ano-novo caía em 1º de janeiro. O rei francês só seguiu o decreto papal dois anos depois, em 1564, e, mesmo assim, os franceses que resistiram à mudança, ou a ignoraram ou a esqueceram, mantiveram a comemoração na antiga data.

Alguns gozadores começaram a ridicularizar esse apego enviando aos conservadores adeptos do calendário anterior – apelidados de “bobos de abril” – presentes estranhos e convites para festas inexistentes. Com o tempo, a galhofa firmou-se em todo o país, de onde, cerca de 200 anos depois, migrou para a Inglaterra e daí para o mundo. (Fonte: Revista Superinteressante - super.abril.com.br).

Lembro do dia primeiro de abril como uma saudável brincadeira de infância: no meu tempo de piá, estudando na Escola Municipal Wonibaldo José Rauber, no interior de Toropi (hoje extinta), costumávamos pregar peças nos colegas: o primeiro a chegar criava toda uma situação e a "vítima" era o próximo aluno que chegasse. A turma ia aderindo e pregando a peça em quem ia chegando. Era uma brincadeira inocente, que não prejudicava ninguém e servia para a molecada se divertir.

Hoje, infelizmente, todo o dia passou a ser o dia da mentira e a brincadeira não tem graça nenhuma.

Mente o político que faz promessas mirabolantes para ganhar votos e depois de eleito usa como desculpa a situação do município (estado, país...) para não as cumprir.

Mente quem trai o marido ou a esposa e mente ainda mais aquele "amigo" que ajuda a sustentar um álibi para esconder a pilantragem.

Mente quem se finge de doente para fraudar a Previdência Social. A lista é infinita e há muito tempo deixou de gerar sentimento de culpa.

Existem as mentiras bem intencionadas, é claro: o novo penteado da sua melhor amiga tá parecendo a cabeleireira do Einstein depois de uma ventania, mas você jura que ficou ÓTIMO!

Também costumamos dar palavras de encorajamento a um amigo, mesmo sabendo que a situação não tem saída ou a doença é incurável.

Mas não existe mais aquela inocência salutar, aquela mentira inocente que fazia do primeiro de abril uma brincadeira para provocar os amigos e despertar gostosas gargalhadas. Mesmo a internet, uma ferramenta criada para facilitar a vida das pessoas, permite que se criem perfis falsos e a aplicação dos mais sórdidos tipos de golpes. E infelizmente sempre existem pessoas inocentes ou nem tão inocentes assim que caem nesse tipo de coisa.

Talvez fossemos mais felizes antes. Talvez mais inocentes. Talvez um dia voltemos a usar o dia primeiro de abril para brincar.

São muitos "talvez", mas apenas uma certeza: a humanidade ainda tem conserto, sim. Basta que não deixemos que morra a criança que ainda existe em nós. Apesar de tantas alternativas que temos ao alcance das mãos e da mente para pervertê-la.