Sonho quebrado
Sonho quebrado|
Acordei mais. Era assim que começava a narrativa matinal. O coração ritmava pum pum pum, na sequência triplicada típica de bichos mortais. Calor intenso. Electricidade zero. Torneira seca, fogão limpo, panela vazia. Acordei mais. Na esperança desesperada, no martírio quotidiano de abraçar a miséria, consolar os ricos sem coração, embriagar-se da carência que se fez nossa alma gêmea.
Acordei mais, aqui onde não há mérito nem direito. Aliás, o direito dá pra o torto, e, porras, é dibinza!
Antes de acordar sonhava com um lugar muito lugar, onde a dignidade era denominador comum entre os homens, máximos múltiplos comuns entre seres da espécie homosapiens. Sonhava abraços dourados com verdade cintilante, que perfumavam a vida e davam sabor diferente a vida! Oh, era vida naquele sonho. Mas a efémera vida sonhada terminava logo com novo raiar do sol. Oh, acordei mais!