PALQUEANDO
Nos palcos da vida, damos vazão aos papéis que nos cabem, por vezes encantando plateias ou arrancando delas vaias retumbantes. É a grande oportunidade pra fazer valer o nosso lado farsante e fanfarrão, entoando uma grotesca e tosca ladainha. Também lá podemos escancarar o nosso melhor pedigree, alardeando cada alegoria suadamente erguida, cada suor privilegiado, cada passo abençoadamente parido. Vamos nessa toada tempos afora, cumprindo o nosso roteiro imbuído do fôlego divino, entulhado das certezas que o coração traduz. Daí os ossos se cansam, o pavio se míngua, a razão tonteia e tudo fica morno e turvo. Então descem as cortinas pra coisa recomeçar em seguida, num repente qualquer, ávida por novos chãos e novas cantorias.