Naquele Domingo
Naquele domingo, de manhã, aproveitei que estava sol para lavar toda a roupa acumulada, que não era pouca. Como minha máquina de lavar roupa que era velha quebrou e não tenho dinheiro para consertar nem comprar outra teve de ser à mão. Depois de estender toda a roupa preparei o almoço e lavei a louça. As crianças estavam impossíveis, não paravam um minuto! Para ver se elas cansavam um pouco levei as três para a pracinha próximo de casa, que tem alguns brinquedos. Passamos a tarde lá. Na volta elas ficaram brincando no quintal e eu aproveitei para recolher a roupa que estava no varal. Liguei a televisão e enquanto assistia ao Programa Silvio Santos ia passando a roupa.
De repente pararam o programa para dar uma notícia extraordinária. Foi aí que eu vi o que estava acontecendo e meu queixo caiu. Alguns manifestantes que não concordaram com o resultado das eleições tinham invadido o congresso e o Palácio do Planalto. Destruíram um monte de coisas. As filmagens mostravam uma bagunça tremenda. Minhas pernas começaram a tremer e tudo o que eu pensei é que essa gente não deve ter mãe para dar educação. Eles faziam isso porque não eram eles que teriam de limpar a bagunça depois. Na verdade, eu era uma das que teria de limpar tudo aquilo. Em um determinado momento vi uma pessoa abaixando as calças e fazendo cocô na mesa. (*)Nessa hora quase chorei. A única coisa que pensei foi: “Eu que não vou limpar isso.”
A programação voltou ao normal e dali a um tempo veio uma nova notícia extraordinária. Tinham controlado os manifestantes e alguns iam ser presos em flagrante. Mas que adianta ser preso? Devia era fazer eles pagarem todo o prejuízo e ainda limpar tudo. É muito fácil protestar desse jeito se quem tem que limpar são os outros.
Mandei as crianças para o banho, arrumei a janta, jantei, lavei os pratos, mandei as crianças escovarem os dentes, coloquei eles na cama e já fui me arrumar para dormir. Deitei um pouco antes das dez horas da noite. Nem esperei o final do Programa Silvio Santos. Estava exausta e o dia seguinte seria extremamente cansativo.
(*) foi apenas uma encenação do ato.