Meus Cachoeiros
POSSO dizer que sou alguém de muita sorte porque possui duas pátrias: Arcoverde, onde nasci e vivi a infância e adolescência, e Pesqueira onde me tornei adulto, arrumei emprego, casei com a mulher que amo e vivi tantas, tantas emoções. Ambas as cidades são em meio a serras. Por isso só recordá-las me lembro da canção “Meu Pequeno Cachoeiro”, de Raul Sampaio, imortalizada pelo Rei Roberto Carlos. Nela o compositor revela seu amor telúrico por sua terra. Sinto o mesmo recordando meus dois cachoeiros.
Confesso que sempre que leio os textos do Galego de Itati que com arte e amor escreve narrativas lindas sobre sua cidade, ilustrando com fotos arretadas, eu recordo minhas duas cidades, minhas saudades. Recordo usando um recurso acanhado tipo proustiano.
Foi o que fiz hoje e cheguei às lágrimas. Tal e qual o g rance escritor quando viu a sua cidade sair do fundo de uma xícara de chá. Pra fechar esta arenga vou transcrever o trecho da narrativa de Proust:
“… E como nesse jogo em que os japoneses se divertem mergulhando numa bacia de porcelana cheia de água pequeninos pedaços de papel até então indistintos que mal são mergulhados, de estiram, se contorcem, se colorem, se diferenciam, tornando-se flores, casas, pessoas consistentes e reconhecíveis, assim agora todas as flores do nosso jardim e as do parque do Sr. Swann, e as ninféias do Viviane, e a boa gente da aldeia, e suas pequenas residências, e a igreja, e toda Combray e suas redondezas, tudo isso que toma forma e solidez, saiu, cidade e jardim, da minha xícara de chá”.
Viva meus dois cachoeiros. William Porto. Inté.