BICICLETAS

Hoje eu comprei uma bicicleta para o meu filho. Aro 20. A terceira da vida dele. A primeira foi aro 12, a segunda 16. Olhando para trás eu vejo que, à medida que as rodas vão aumentando, meu coração vai diminuindo, ficando desconfortável, apertado, sufocado no canto do peito. Aos poucos, vejo meu menino crescendo, aproximando-se cada vez mais do mundo e dependendo cada vez menos de mim. É a vida seguindo seu curso, atropelando tudo o que estiver parado em seu caminho. Lembro até hoje da carinha de contentamento dele ao se livrar das rodinhas laterais na bicicleta de aro 16. Foi uma grande conquista para ele, aquele dia. Quanto a mim, uma mistura de ganho e perda.

Muitas outras rodas virão, só Deus sabe quantas. Nas bicicletas, ele só tem mais três ou quatro a galgar, mas na vida, as possibilidades são infinitas. Logo, logo, não serei mais eu a escolher suas bicicletas, e num futuro não muito distante, será ele quem escolherá meus brinquedos. E assim, a cada bicicleta maior, eu vejo a vida, como areias do tempo, escapando pelos vãos dos meus dedos. É uma verdade contra a qual nenhum de nós pode lutar, um episódio a mais na história sem fim. É o velho abrindo caminho para o novo.

Não demora muito e o meu filho comprará bicicletas para os meus netos que chegarão. Aro 12, aro 16, aro 20...