Valentina está gravida e Enzo Fugiu
Valentina enfim contou tudo que ocorrera naquele bendito fim de semana.
Disse que conheceu um menino na escola, seu nome era Enzo, Ele era dois anos mais velho e estava cursando o segundo ano do ensino médio e morava num sobrado no Centro com sua mãe e avó. Disse também que contou a ele que estava gravida, que já havia feito o exame, que não havia dúvidas, que não tinha jeito, que o bebê já estava lá. Contou também que ele entrou em desespero, que o filho não era dele, que não queria saber e pior: Sumiu.
- Como assim sumiu? Que história é essa? Quem é esse Enzo? Vamos lá agora na casa desse moleque.
- Ele não está lá. Eu fui lá hoje. A gente marcou de vir aqui hoje pra resolver tudo, mas ele não apareceu. Fiquei sentada na escadaria um tempão e nada dele chegar. Fui atras, nem ele e nem a mãe estavam lá. A avó disse que os dois viajaram para a casa de uma tia dele lá em Minas. Que só voltariam mês que vem.
- Isso é mentira garota. Ninguém some assim do nada, sem explicação. Ele devia estar escondidinho dentro de casa os dois se escondendo pra não assumir as responsabilidades.
- Também pensei nisso, mas eu não falei nada com a avó dele e ela já chegou contando essa.
Valentina deu o endereço da casa de Enzo.
- A gente vai lá agora pôr a limpo essa história, se não vamos pra polícia resolver isso. Melhor: a gente invade aquilo lá e arranca esse moleque de baixo da cama.
E assim partiram morro abaixo rumo ao Centro. A decida do morro que geralmente se faz em quinze minutos passando pela escadaria do Beco, neste dia foi feita em apenas cinco, o pai de Valentina, escoltado pelos seus irmãos parecia uma tropa inteira de infantaria marchando em combate contra tropas inimigas. Atravessaram dez quadras em cinco ruas e foram parar na casa do tal moleque do outro lado da Praça Tiradentes.
- Ô de casa!
Batidas de palmas e batidas no portão.
- Ô de casa!
Repetia-se as batidas.
- Quem tá chamando? Quer falar com quem?
-Eu quero falar com Enzo, o Enzo está aí? Preciso falar com a mãe dele.
- O que tanto querem falar com o menino hoje meu deus do céu?! Ele não está em casa. Nem ele e nem a mãe dele. Os dois viajaram hoje e nem me falaram nada. Só disseram que era preciso resolver umas coisas lá em Valadares.
- O Dona, eles fugiram senhora, fugiram do compromisso.
- Que compromisso? Do que vocês estão falando?
- Seu neto e sua filha são dois covardes, isso sim. Desculpa falar assim com a senhora, mas eles são. Sabe do que seu neto fugiu? Sabe o que ele fez?
A avó de Enzo, uma senhora corpulenta e branca, com os cabelos bem branquinhos e curtos parecendo lã de ovelha e vestida de camisolão de algodão, daqueles que senhorinhas utilizam não apenas para dormir e sim para passar o dia confortavelmente dentro de casa.
- Fugiu de que gente? Do que aquele menino tem que fugir? Eu não estou entendendo mais nada!
- E que teu neto engravidou a minha filha. minha filha é de menor, é bem mais nova do que ele e teu neto vai sim ter que arcar com o acontecido. Desculpa falar, mas na hora de vir pra cima da menina ele se fez de homem e agora que a merda tá feita fez o quê, meteu o pé?
- Ai meu deus do céu, um filho? Enzinho? O que você fez Enzinho?
- Eles estão aí dentro de casa, não estão? A gente não vai fazer não com ninguém não, só quero que ele assuma a responsabilidade dele.
- Eles não estão aqui, eu já disse. Vou tentar ligar pra eles e mesmo que não consiga, assim que eles voltarem, farei com que o menino se redima, não é certo fazer isso que ele fez. Não se preocupe seu moço. Vi que o senhor é um homem sério e está defendendo sua família.
A avó de Enzo seria capaz de dizer qualquer coisa para se livrar daqueles três sujeitos parados em seu portão.
- Tá tudo bem Dona Glória?
Era a vizinha do outro lado da rua que, não suportando mais assistir a cena inusitada sem conseguir ouvir uma palavrinha sequer.
- Tá tudo bem Tereza, tudo bem.