ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (62): O Lado Oculto da Devoção: Um Jogo de Interesses.
Era uma tarde abafada, em que o sol parecia lançar suas últimas faíscas de calor antes de se esconder por trás do horizonte. Sentado à minha mesa, folheando papéis e tomando um gole de café, deparei-me com um artigo intrigante que prometia revelar os bastidores da vida dos pastores. "Não, meus amigos", pensei, "não é apenas uma questão de fé e devoção, há algo mais obscuro nesse enredo".
Segundo as palavras impressas naquelas linhas, a motivação para abraçar o caminho pastoral era, essencialmente, financeira. Um emprego com segurança e vitalício, um ganho fácil, como se o salário do pastor fosse um trunfo bem guardado nas mangas da vida. Afinal, o valor a ser recebido dependia do tamanho da igreja, ou até mesmo da classe social que a frequentava. Além do salário, vantagens como moradia e ajuda para combustível eram concedidas, como se um contrato benevolente selasse esse acordo.
Enquanto meus dedos percorriam aquelas palavras, uma sensação de desconforto tomou conta de mim. Aquela busca espiritual, que deveria ser alimentada por um propósito nobre, parecia ser contaminada por interesses mundanos. A devoção ao Divino era eclipsada pela necessidade de se "ajeitar na vida", de obter benefícios materiais com relativa facilidade.
De forma irônica, alguns desses pastores pediam discrição pública sobre o tema salarial. Como se um véu de segredo encobrisse as cifras e o modo como o dinheiro fluía nessa empreitada religiosa. "As pessoas ignorantes da comunidade podem não entender", afirmavam com sutileza, como se fosse um enigma indecifrável destinado apenas a uma elite esclarecida.
Refleti sobre a essência da religiosidade e do compromisso espiritual. A mensagem que emergia daquelas palavras era avassaladora: havia um jogo de interesses por trás do véu sagrado. As chamas da fé, outrora incandescentes, pareciam ofuscadas por sombras de interesse pessoal. Era como se os pilares da devoção estivessem prestes a ruir sob o peso da ganância e da ilusão de uma vida confortável.
Enquanto observava a tinta se espalhar nas páginas do jornal, senti uma tristeza profunda. Não podemos permitir que nossa devoção seja corrompida por interesses mesquinhos. A religião, em sua essência, deve ser uma busca sincera pela conexão com o divino, um farol que ilumina nosso caminho em meio às sombras do mundo.
Que possamos refletir sobre o verdadeiro propósito de nossa devoção, sobre a necessidade de transcender as amarras do egoísmo e da busca por vantagens pessoais. Que nossa fé seja um elo genuíno com algo maior do que nós mesmos, uma chama que arde em nossos corações e nos impulsiona, cada vez mais, a sermos melhores.
Que a luz da verdade possa dissipar as sombras do interesse no conforto material.