ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (60): A Anarquia Religiosa.
"A ignorância, a cobiça e a má-fé também elegem seus representantes políticos." (Carlos Drummond de Andrade)
Era uma época em que a liberdade parecia florescer em todos os cantos da sociedade. A democracia, com sua promessa de igualdade e direitos fundamentais, assegurava a todos o direito à liberdade religiosa. A Constituição Brasileira, com seus artigos claros e precisos, garantia essa prerrogativa. No entanto, em meio a essa aparente harmonia, surge uma pergunta inquietante: até que ponto essa disseminação, rotulada como religiosa, não se configura como um abuso da boa fé do povo? Até que ponto ela ultrapassa os limites legais e viola o verdadeiro propósito da religiosidade? O que presenciamos não é um genuíno uso da liberdade, mas sim uma anarquia religiosa.
Não há leis que proíbam tais práticas, é verdade. A liberdade religiosa é um direito inalienável de cada indivíduo. Contudo, ao nos depararmos com a realidade, é impossível não questionar os excessos que presenciamos. Oportunidades se transformam em abusos, e a religião se torna uma moeda de troca, uma forma de manipulação. Um instrumento de dominação.
É como se a fé, tão sublime e sagrada, estivesse sendo comercializada, diluída em promessas vazias e interesses mesquinhos. É um verdadeiro atentado à essência da religiosidade, um desvio do seu propósito mais nobre. Essa anarquia religiosa que testemunhamos coloca em xeque não apenas a boa fé do povo, mas também a própria integridade da religião.
Afinal, onde está a verdade na multiplicidade de líderes espirituais que surgem a cada esquina? Onde está a profundidade da experiência espiritual em meio à superficialidade dos discursos e rituais? São questões que me assombram, que me fazem questionar se essa diversidade aparente não passa de uma mera fachada para a ganância e a manipulação.
Não estou aqui para julgar crenças individuais ou negar o direito de cada um buscar sua própria conexão com o divino. No entanto, é preciso refletir sobre os limites éticos e morais que são ultrapassados em nome da religião. É necessário separar o joio do trigo, discernir entre os verdadeiros mestres espirituais e aqueles que apenas se aproveitam da vulnerabilidade alheia.
A anarquia religiosa não é sinônimo de liberdade, mas de caos espiritual. É preciso reavaliar o significado da fé em nossa vida, resgatar a verdadeira essência da religiosidade. A busca pelo divino deve ser um caminho de autenticidade, conhecimento e compaixão, não um terreno fértil para o oportunismo e a exploração.
Neste momento de reflexão, convido cada leitor a olhar além das aparências, a questionar as motivações por trás das práticas religiosas que testemunhamos. Que possamos buscar uma conexão verdadeira com o sagrado, baseada na integridade, no amor e na busca sincera pela verdade.