Ficcões Heurísticas: Anotações de um extemporâneo II

...naquele tempo as pessoas tinham que agir por empatia ou respeito umas as outras, para que não viessem a um colapso, a empatia era a pura proteção instintiva; ainda não tinham seus aparelhos psíquicos despertos para perceberem a conexão dos impulsos que assim nomeavam por ações morais, eram animais e não sabiam. O seu nível de comunicação era somente o verbal, que já deixamos há muito para trás como veículos cardeais de relação. Uma comunicação inteiramente individual e inconsciente os guiavam num jogo de palavras incessantes que delimitava o limite do mundo que conheciam.

Havia crenças e superstição em tudo que seus olhos viam, em tudo que sentiam, eram sublimes em criar ilusão. Não tinham como nós os olhos da vida abertos, nós que vemos, mas não com olhos, nem tocamos com palavras, mas sim, com cosmo em nosso coração. Ao se olharem nos olhos eles viam suas imagens, seus desejos, não viam o mistério das galáxias e estrelas por trás do ser que amavam. Eram poetas com palavras habilidosas, mas não viviam de fato o espanto do sagrado que se espelha em cada ser...

Um dos aspecto do século XXI: a individualidade extrapolada até o altruísmo e egoísmo máximo - a ilusão mais derradeira: o achar-se desconectado do Todo, e por isso isolados, tendo que agir por condutas que os confundiam e os separavam ainda mais uns dos outros. Ninguém estava na sua hierarquia natural, pior, eram hierarquizados por um terrível sistema de exclusão que eles mesmos cultivavam na Psiquê através de princípios de bem e mal, prazer e desprazer, conceitos animalescos que já descartamos; refletiam, assim, o mesmo sistema no qual repudiavam. A falha era geral, no âmago do pensamento, mas não viam a lacuna que os separava de si mesmos. O Pensamento era um, mas eles tendiam recortá-lo em dois, entre "eu" e "pensamento".

Era nisso que tropeçavam: queriam resolver o mundo com condutas, sendo que ao resolverem um problema um outro era criado, isso desde os mínimos e maiores acontecimentos de suas vidas.

Ver era impossível. Só enxergavam pelo verbo. A percepção de que eram seu próprio mundo estava desligada... (continua...)