ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (54): Aos Olhos da Fé.
Na imensidão das igrejas, onde as vozes se elevam em cânticos fervorosos, paira um mistério obscuro que envolve os esquemas administrativos. Como um intrincado labirinto, essas estruturas se entrelaçam em disposições e inter-relações que, à primeira vista, parecem singulares. Porém, a realidade por trás das cortinas revela um cenário complexo, onde sacos de dinheiro são arrecadados e gastos em projetos grandiosos, de desígnio quimérico e ridiculamente vistosos.
Olhando de fora, pode-se admirar a pompa e a extravagância dessas empreitadas, com seus nomes habilmente escolhidos para ressoar na mente dos fiéis. Mas, no silêncio das almas, surge uma pergunta inquietante: para onde estão indo, afinal, as doações generosas dos irmãos contribuintes? Uma incerteza paira sobre o coração desses devotos, que se sentem ausentes, desprovidos do conhecimento sobre o destino final de suas ofertas.
Diante dessa incerteza, alguns corajosos decidem buscar respostas. Eles se aproximam de seus confessores, pastores dirigentes em quem depositam sua confiança, buscando elucidar o mistério que permeia suas doações. No entanto, o que recebem são explicações evasivas, impregnadas de emoção contida. "Nada do que pertence à Associação ou Missão deve entrar em qualquer cogitação, mesmo por empréstimo de alguns dias" (PINHO, 1980, p106). Dizem eles, em um tom que mescla sutileza e obscuridade.
É nesse momento que as máscaras começam a cair, revelando uma realidade desconcertante. Por trás das cortinas, há um jogo de interesses em movimento, uma teia tecida por aqueles que deveriam ser guardiões da fé e da generosidade. Os projetos grandiosos, por mais esplendorosos que sejam, se tornam veículos para a projeção pessoal e o benefício individual de alguns líderes. As palavras sagradas, que deveriam guiar os passos dos fiéis, se perdem em meio a jogos de poder e manipulação.
Nesse emaranhado de desilusões, o irmão contribuinte se vê perdido, desviado de seu propósito inicial. Afinal, ele não buscou ver as "janelas do céu se abrirem" apenas para enxergar seus recursos desvanecerem em meio a intrigas e interesses pessoais. Sua fé clama por transparência, por uma resposta que lhe traga paz de espírito e a certeza de que suas doações estão sendo verdadeiramente destinadas àqueles que necessitam.
Ao refletir sobre esses eventos, vividos como quem testemunha a fragilidade humana, somos desafiados a questionar nossos próprios valores e a nos tornarmos agentes de transformação. A mensagem impactante que ecoa em cada linha dessa crônica é clara: é necessário resgatar a verdadeira essência da fé, onde a caridade é o aperfeiçoamento.