O Varal, O Guarda Roupa e as Mudanças

Mesmo nos apartamentos de tamanho médio não há espaço para varais grandes. Olhando para o pequeno varal de onde moro atualmente me lembro da minha infância. Morava em uma casa onde tinha um varal de arame que ocupava o quintal de ponta a ponta. Na lavanderia também tinha um espaço coberto com outro varal.

Aquele quintal me traz muitas lembranças. Era lá que eu brincava, montava a casa de faz de conta. Eu e minhas amigas pegávamos tudo que era brinquedo ou objeto que acreditávamos ser necessário para isso. Riscávamos o chão para dividirmos os cômodos: a sala, a cozinha, o quarto, o quarto das “filhas”, que no caso eram as bonecas... Afinal, brincadeira era coisa séria. Minha mãe sempre mandava recolhermos tudo, o que fazíamos meio a contragosto, confesso. Também naquele quintal montávamos a piscina de plástico no verão. Foi lá que aprendi a andar de bicicleta, brinquei de bola, Vai-Vem e outros brinquedos da minha época. Era onde as crianças ficavam nas festas de aniversário. Também foi onde na minha festa de doze anos nos divertimos dançando lambada. E, onde foi meu bailinho de quinze anos. Bailinho bem engraçado aliás, pois quando tocava música lenta os meninos ficavam de um lado e as meninas de outro, morrendo de vergonha. Em resumo: ninguém dançava.

Embora tenha muito boas lembranças de minha infância tínhamos alguns problemas por morar em frente a escola e muitas vezes mal podermos entrar porque sempre tinha gente no portão. Nossa casa também foi assaltada uma vez e minha mãe vivia preocupada com a segurança, porque meu pai e meu irmão trabalhavam e ela ficava lá sozinha comigo.

Cresci naquela casa, fiz faculdade e trabalhei em alguns empregos quando ainda morava lá. Nos mudamos quando eu tinha vinte e seis anos. Meu pai a vendeu, juntou com mais um dinheiro que recebeu de indenização e comprou um apartamento em outro bairro.

No momento da mudança não conseguimos levar os guarda roupas do quarto dos meus pais e do meu. Descobrimos que estavam infestados de cupim. A mudança foi um caos. Arranharam alguns móveis, ficou tudo bagunçado, pelo meio. Ficamos sem guarda roupa por um bom tempo. O meu foi encomendado e demorou a chegar. Os meus pais tiveram de cancelar o pedido do deles, porque ele não veio e precisaram comprar em outra loja. Nos primeiros dias eu não conseguia dormir direito. Minha avó, que morava conosco caiu da cama na primeira semana. E o pior, não foi só ela, eu também cai da cama.

Mas com o tempo as coisas foram se ajeitando: os guarda roupas chegaram, arrumamos as coisas no lugar e nos acostumamos com o apartamento.

Na verdade a mudança foi para a melhor. O bairro era melhor, não tinha escola na frente de casa e havia tudo perto, incluindo estação de Metrô. Mas mesmo assim a mudança incomodou, foi difícil no começo, exigiu adaptação.

Pensando nisso lembro de muitas outras mudanças que tive durante a vida. Algumas foram para melhor e outras para a pior. Só tenho uma certeza: as que foram para melhor foram conquistas e as que foram para pior trouxeram aprendizado.

Afinal de contas, as mudanças são incômodas e por vezes machucam, mas fazem parte da vida. Pois é por meio delas que aprendemos e crescemos como seres humanos.

AninhaP
Enviado por AninhaP em 13/07/2023
Código do texto: T7836197
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