O elenco

Vamos reunir e divulgar os truques que levam a exuberância. Enxameiam brincalhões na sala do elenco. O uísque aparece no lugar onde ontem era habitação de problema. Janelas se abrem. Acabou o senso dramático na excessiva espera. Respira-se a brisa suave das notas noturnas pelas vidraças do estúdio. Por teatral afundam as naves das analogias e o amor finalmente ganha do corpo o natural sentido de antigamente. O cínico com seu duplo objetivo agora é o mago adulto das especulações embutidas. O homem isolado bebe das fontes deixando o seu considerável lamento para o dia de amanhã.

Empinados na confusão do ensaio decidem renunciar ao quadro exato do decorador prestigioso feito para comentar humildade diante da natureza poderosa. Os passos aguardam imensas superfícies nas ilusões que brotam. No entanto são as mulheres que empreendem o brilho no sentido da proximidade para que o vigor se regenere no tempo florescente, nesse período em que são servidos doces, licores e sons.

Na sala foi edificada a imagem do conjunto. Todos querem pertencer ao sonho. Todos querem andar pela rua como seres duplos modificados entre a imagem e o produto a que se entregam. Essa segunda parte é algo forte tanto quanto se transformar numa estátua sem ter morrido. Sensação de fortaleza e abrigo. De gravata e terno, muito sério, grita o figurante:

- Faço parte das construções parasitárias...

Há risos e boatos de que desta vez o figurante surgirá dentro do vidro, talvez em meio ao anúncio da garrafa de bebida destilada. Mas que por azar a distorção do vidro não permitirá o estrelato. Ele retoma a sua dignidade serena sem dizer nada.

O sexo é recompensa para o infortúnio da idade, revelou o velho enquanto um copo cai e se quebra. O corpo, novamente o corpo, diz o velho, dá sensibilidade à arquitetura de pedra. O corpo nu é o único protesto contra o objeto insensível que prevalece hoje na imagem. A tenra imagem da ilusão... Lamentou ausente de si mesmo a espera de reconstituição da cena que estava demorando. Mesmo assim todos permaneciam vestidos com roupas estranhas, porém em perfeita assimetria. O diretor chegaria com as verdadeiras estrelas. Penetraria pela sala dos lírios no palácio de papel. Pisando firme com autoridade moral de um lutador. Se os condes se alimentam como tais o diretor usa o seu grito preferido como sistema de ordens. Todos os fios estão nos lugares, tudo está pronto, tudo está bem. A música desembaraça novos acordes.

Num segundo falta luz por razões desconhecidas.

Muito tarde a luz retorna encontrando todos dormindo na fotografia verdadeira do cansaço.