ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (38): A Inversão dos Valores no Serviço Religioso.

Era uma manhã de domingo, daquelas que a brisa acaricia suavemente o rosto e o sol surge no horizonte, iluminando cada canto da cidade. Um dia que, à primeira vista, poderia ser apenas mais um dia comum na agitação urbana, mas que guardava segredos e reflexões em seu cerne. Era o dia em que tudo acontecia ao contrário, em que os rumos se invertiam e os conceitos se distorciam.

Os "pastores", figura central, em suas vestes imponentes, dedicavam todo o seu tempo, com uma dedicação duvidosa em termos de qualidade, exigindo, em contrapartida, um teto salarial que os colocasse no patamar de Very Important Person, como se fossem verdadeiras celebridades. O sagrado se mesclava com o mundano, e aqueles que deveriam ser guias espirituais terminavam por trabalhar arduamente para conquistar adeptos para si mesmos, seguindo a lógica insensata de que quanto mais dizimistas, melhor.

O que antes era um chamado divino, uma missão para guiar almas em busca de paz espiritual, parecia ter se transformado em uma busca desenfreada por reconhecimento e poder. Os valores morais se perdiam em meio a ambição desmedida, e os interesses pessoais obscureciam a verdadeira essência do serviço religioso.

Caminhando pelas ruas, eu observava essa realidade paradoxal que se apresentava diante dos meus olhos. Os templos majestosos e repletos de fiéis, cujas vozes se uniam em cânticos de louvor, agora pareciam ter uma sombra pairando sobre eles. Os sorrisos forçados e os discursos ensaiados ecoavam em minha mente, contrastando com a simplicidade e a autenticidade que devia permear a vida religiosa.

A cronologia do tempo revelava a inversão dos valores, o desvanecimento da verdadeira vocação em troca de uma fama efêmera e uma conta bancária repleta. O trabalho sagrado, antes visto como uma dádiva, tornou-se uma busca incessante por seguidores, como se o número de adeptos fosse a métrica definitiva para medir o sucesso.

Nesse cenário perturbador, reflito sobre a mensagem que fica para nós, leitores desta crônica vivida e compartilhada. Devemos questionar o rumo que damos à nossa fé, o modo como valorizamos aqueles que nos guiam espiritualmente. Será que estamos buscando o verdadeiro sentido da religião, ou estamos nos deixando seduzir por uma aura de poder e fama?

Que possamos resgatar a simplicidade e a pureza da devoção, valorizando aqueles que genuinamente se dedicam ao serviço religioso por amor às almas. A grandiosidade não está em ter um salário VIP, mas em viver a mensagem de amor, compaixão e esperança que transcende qualquer ganância material.

Que a crônica de nossos dias possa ser escrita com a tinta da autenticidade e da busca pelo divino, desprendendo-se das amarras do ego e abraçando a verdadeira essência do serviço espiritual. Somente assim, poderemos encontrar o caminho de volta à simplicidade.