Galáxia
É o vale dos incandescentes do sopro mais gelado, do toque frio e do olhar perdido entre as duas capacidades. Olhe pelo buraco circular e você verá restos de mim que saem todos os dias e vão se fixando no céu mais distante. Meus pés tocando a terra, um desperdício... Se ao findar a minha dor me tornarei um quasar, quiçá me divida em duas partes e solte o buraco negro que me suga de gole em gole; os cientistas ficarão alegres; me tornarei algo brilhante e inoperante, os pensamentos já não serão mais meus; as pessoas aos poucos me esquecerão, 99% da população continuará a sua vida na mais perfeita desordem como sempre, trabalharão enriquecendo seus chefes, brigarão pelo banco no metrô, ficarão nos ônibus como bois e marcados, seguem felizes apenas chiando baixinho. Os grandes ladrões continuarão roubando por debaixo do tapete, para os trabalhadores não sentirem tanta raiva; os ladrões de Samsung e Iphone, seguirão roubando seus iguais, suscitando a raiva dos populares e logo morrerão, tendo sua eternidade pixada em paredes que serão corroídas pela chuva e pelo tempo. Nos encontraremos? Eu não sei. Gosto da solidão e já ouço o silenciar das estrelas, os filamentos de outrora, as antiguidades deslumbrantes. A morte clama pela minha carne e eu clamo pelo beijo dela; amor platônico, impossível? Mais que possível, necessário, cânone. Tudo ainda está no clímax, desgraça atrás de desgraça, nó por cima de nó, e a virada aguarda o seu momento para me dar então lugar no céu e brilhar junto à Lua e àquela estrela que sempre brilha mais todos os dias, como nova, brilharei ofuscando a grande Mãe, e a cada dia a luz apagará e somente aqueles que olham o céu com atenção verá uma estrela eterna e prenha de uma mulher subdesenvolvida.