ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (36): O Silêncio do Exemplo.

Há algo intrigante na maneira como a aparência do mal é prontamente compreendida como mal. É como se estivesse impregnada em nossa natureza a resistência a tudo que possa nos parecer sombrio ou negativo. Nós, seres humanos, tendemos a desconfiar, a afastar, a rejeitar o que não se encaixa no nosso padrão de bondade. E é nesse complexo jogo de percepções e julgamentos que surge a figura enigmática do Apóstolo Paulo.

Como cristão, o Apóstolo carregava consigo uma preocupação constante: que tipo de inspiração ele estava transmitindo aos outros? Ele compreendia que todos nós, consciente ou inconscientemente, lançamos sombras, influenciamos aqueles que nos cercam. Nessa perspectiva, Paulo afirmava categoricamente: "nenhum de nós vive para si mesmo". E ele tinha razão. Nossa existência está intrinsecamente ligada às vidas daqueles com quem interagimos, sejam eles conhecidos ou desconhecidos.

E foi nessa busca por lançar uma sombra benéfica que Paulo se viu diante de um dilema peculiar. Ele discorreu sobre o direito de um pregador receber sustento do Evangelho, algo considerado lícito e justo. No entanto, Paulo optou por não exercer esse direito. Por quê? Porque, em sua sabedoria, ele percebeu que a aparência do mal poderia ser evitada através dessa decisão.

Ao recusar receber pagamento por suas palavras e ensinamentos, o Apóstolo demonstrou uma consciência aguçada do impacto que suas ações poderiam ter na mensagem que transmitia. Ele compreendia que se aceitasse pagamento, poderia despertar a desconfiança e o desinteresse das pessoas. Ele temia que suas motivações fossem questionadas e que o trabalho divino fosse desacreditado pelos olhos astutos daqueles que esperavam encontrar interesses egoístas nas palavras dos pregadores.

Paulo, em sua postura íntegra e honesta, se recusou a explorar seus irmãos de fé. Ele sustentava-se por meio de sua própria profissão, habilidosamente fabricando tendas. A pregação do Evangelho era para ele uma missão cristã, nunca uma profissão. Ele deixou claro em suas palavras e atitudes que não buscava lucrar materialmente com seu ensino, mas sim sentir a necessidade urgente de compartilhar a mensagem de Cristo com o mundo.

E assim, ao longo da história, podemos encontrar exemplos semelhantes. Os escolhidos de Deus não eram desocupados, mas indivíduos com ocupações paralelas que se tornaram instrumentos divinos. Eles utilizaram seus dons e talentos dados por Deus para ajudar outros a encontrarem o caminho da salvação. Eles compreenderam que sua profissão secular era um trampolim para o trabalho missionário, uma forma de adorar a Deus, amar o próximo e fazer avançar a obra divina.

A lição que aprendemos com o silêncio do exemplo de Paulo é profunda. A maneira como vivemos nossas vidas e nos relacionamos com os outros define a qualidade do nosso caráter e a eficácia de nossa mensagem. "E, apesar de conhecerem a justa Lei de Deus, que declara dignos de morte todas as pessoas que praticam tais atos, não somente os continuam fazendo, mas ainda aprovam e defendem aqueles que também assim procedem." (Rm 1:2 BKJA).