A MAIORIDADE DA LIBERDADE VERDADEIRA.
A verdadeira liberdade não sofre os grilhões da consciência, não ultrapassa as fronteiras do cárcere, pois nunca se avizinha da soleira de suas grades.
Só os limpos vivem o cenário da vida arejada, onde a conduta não fustiga a alma, nem põe em combate os decretos sociais.
Transitar livremente quando o interior cinzento ainda se acha velado, é caricatura de uma liberdade inexistente, que o cárcere desnuda no palco de um teatro onde não há mais cortinas.
A única liberdade é a de não alarmar nem desservir aos teus iguais sob o manto da invectiva, forrada no pessoalismo e na vaidade sem títulos, demeritória e rasteira. Um dia o perfil do que se é e que se foi se mostra inteiro.
Todos somos frutos de uma engrenagem social da qual só se afasta o anacoreta, onde ninguém se afirma contrariando os conviventes e as regras por eles impostas; é a sociedade criada e o Estado revelado ao qual não podemos enfrentar. Se te convenceres da liberdade que não liberta, agarrado ao palco de um cenário construído sob mentiras, complexos e vaidades, buriladas no porão obscuro das grades mesmo benevolentes, não te livrarás das atribulações e agruras das moléstias que assaltam o pensamento. Nada que se faz deixa a causa eficiente sem retorno ou sem registro. Causa e efeito movimentam a vida e seu curso, do pó ao pó.
A vontade individual não conta; não há voz isolada que estrondeie sob o tropel das multidões. Mas duas forças perturbam esse séquito de desesperos: o ideal e o interesse. O interesse trepida na instabilidade, vive de vitórias compressoras e morre de derrotas conjuradas, ressurge na desforra para capitular na anarquia, conta pelo número, mas desmorona na ambição.
Ninguém avança na mentira, nem faz do Estado e seus mandamentos um vassalo de fantoches. O palco um dia fecha suas cortinas. É preciso entender que a peça acabou, a platéia não mais pode ser enganada.