PRIMAVERAS PERDIDAS.

Sou este poeta entregue a tua beleza, ao teu perfume, teus toques, a tua presença derramada delicadamente diante dos meus olhos moribundos. Desde que a janela da minha alma te encontrou na tarde daquele novembro na cidade das flores, tudo mudou drasticamente, e num instante este aedo de palavras jogadas ao vento se viu prisioneiro do teu olhar feiticeiro. Talvez eu mereça o castigo que me cabe, afinal, tê-la tão perto de mim e distante ao mesmo tempo tornou-se algo comum, eis que terrível contradição essa minha. Sou este poeta desesperado por um sorriso apenas, uma palavra aleatória, um toque qualquer, uma ponta do teu desejo mais profundo e infinito me corroendo por dentro e por fora todos os dias.

Quantos não foram os momentos de intensa admiração, de uma contemplação muda e hipnótica, inteiramente devotada à majestade da sua pessoa. Houve momentos no curso da nossa história em que o desespero tomou-me o coração como uma fera quando agarra a sua presa, deveras fiquei inflamado de desejos carnais. Tantas vezes que sonhei contigo, noites insones, delírios em plena madrugada depois de despertar e perceber que tudo não passava de uma brincadeira da mente. Os beijos ardentes na dança de nossos lábios aconteceu apenas enquanto eu dormia. Sei o peso que teve a minha insistência em face da sua insignificância, sua negativa diante dos meus olhos marejados, nada pude fazer, reconhecendo assim a derrota infinita.

Você é um completo mistério para qualquer olhar que passear desavisado pelos caminhos desta despretensiosa crônica. Quem a lê, ficará apenas conjecturando possibilidades absurdas, tecer conceitos e imaginações improváveis, enfim, de certo modo todos estão corretos e errados ao mesmo tempo. Sou alguém que não deseja ser visto, não valho a pena, portanto, considero-me uma sombra fugitiva. Os meus sentimentos por você são grandes demais, impossível de definir em apenas um texto, porém, tal como um rio que transborda, assim estou nesse momento, transbordando de amores por você. Cheio de desejos inconfessáveis, segredos que são desenhados nos meus versos e poemas. Você os leu, lembra-se... no entanto, não pode perceber o verdadeiro sentido de cada um. Quisera eu poder revelá-los docemente aos teus ouvidos.

As minhas noites sem você passaram a ser traiçoeiras e os dias fugitivos, me ensinando coisas que os anos jamais saberiam. Lembro-me de cada primavera que passei contigo, do perfume de cada flor durante as manhãs, do canto dos pássaros quando percebiam que você se aproximava. Este poeta estremecia perante o som da sua voz e o lume da tua face, quantas vezes eu quis beijá-la em público, externar o que explodia por dentro, porém, havia um terrível impedimento. Em todas as vezes que ficamos face a face, fiquei em silêncio, adotando a arte dos covardes, em dizer depois, no papel, o que deveria de falar frente a frente, tal como faço neste momento. Enquanto derramo o meu coração nessa prosa desajustada, questiono-me se realmente os teus olhos lerão a crônica escrita com a alma e o coração.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 09/07/2023
Reeditado em 09/07/2023
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