DIAS DE VENTOS
Sempre gostei dos dias de vento.
Com excessão àquelas que antecedem as tempestades, as demais ventanias me fascinam.
Quando menino , reinava pelos campos imensos que circundavam a casa em que eu morava ,pulava a cerca e me embrenhava campina a fora dando a cara às rajadas em tardes de sol e calor.
Lembro-me da casa de um casal de idosos - grande demais para tão somente duas pessoas, pensava assim - por onde eu cruzava até alcançar a liberdade verde dos gramados de meu tempo.
Nas tardes de vento, tamborilava uma bacia de alumínio - já meio amassada - pendurada do lado de fora , ao lado da janela.
Aquele ruído seco de encontro à parede naquela casa solitária, carregava algo de sinistro.
Juntando-se ao silencio do casal recheando os compartimentos espaçosos da casa e as três janelas aos fundos da moradia - sempre fechadas - com olhares melancólicos de janelas que espiavam o nada, o pacote de um cenário de filme de suspense estaria completo, não fosse o imenso carinho que tinha eu por dona Jovina e seu Emanuel, moradores do local.
Livre, leve e solto, eu dividia com as abelhas a liberdade cheirosa dos recantos verdes bordados de assa peixes ( arbustos que florescem em formato de uma pequena sombrinha de onde desprende-se um odor levemente adocicado)
Depois...
A mata rala e sua sinfonia.
As araucárias, altivas, sobressaindo-se ao arvoredo mas baixo, e seus braços franzinos arpejando ao vento as canções do Sul.
[ Nada é mais poético que o arpejar dos pinheiros em tardes de ventania ]
Eu deitava-me na grama e meus olhos divisavam céus de teco-tecos, com núvens corredias, sempre em busca de um não sei quê, naquele "não sei onde" do infinito.
Aos meus ouvidos os acordes da mata procriavam sonhos , e foram tantos, que até nem lembro.
O tempo correu, como tudo corre nesta vida, e agora eis-me na condição de um ancião que ainda não se libertou do gosto pelos dias de ventos.
Em minhas andanças busquei um dia a casa com a bacia de alumínio ao lado da janela e tudo o que encontrei foi apenas uma moderna construção em seu lugar.
Nos meus campos de assa peixes, lamentamos - as abelhas e eu - o sumiço das sombrinhas de aroma ligeiramente adocicados que um dia foram cenários de nossas aventuras.
Em seu lugar...Casas, casas e mais casas.
Porém, nem tudo estava perdido.
A ausência das araucárias, fora suprida pelo esguio dos eucalíptos ladeando uma bucólica estradinha de chão.
Ventava...
Ventava forte sobre a solidão de meus passos naquela tarde de um domingo qualquer e o céu era escandalosamente azul.
O farfalhar das folhas daquele arvoredo conduziam-me por meus jardins interiores e assa peixes itinerantes vagavam em minhas divagações.
Numa vila operária a certa distância, alguém ouvia uma canção do Moacir na tarde quieta.
Os acordes chegavam aos meus ouvidos e o farfalhar dos eucalíptos dava um toque de nobreza àquela canção tão linda que diizia...
"Corro tanto pra chegar///Então eu paro sem saber, se devo entrar///Quando eu parti eu não pensei, que um dia voltaria, e...voltei "
Ri de mim mesmo, refresquei-me num gole de água e fui fazendo meu caminho de volta.
Todos os pinheiros do meu ontem agora orquestravam a tarde azulada.
Já mais distanciada, a canção ainda me chegava aos ouvidos...
"Mas de repente eu vejo abrir,uma janela e a sorrir, dizendo : AMOR..."
Ah !... Este meu romantismo vagabundo...
Até quando ?
Atinei com meus botões.
IRATIENSE THUTO TEIXEIRA