POETA MAURÍCIO MARZULLO
NÃO DEIXES TEU BRASIL
Nelson Marzullo Tangerini
Em abril de 1944, a revista “Vida Nova” publica, na página 38, um soneto de Maurício Marzullo, filho da atriz de teatro e cinema Antônia Marzullo.
O referido trabalho, “Não deixes teu Brasil”, podia ser lido em pleno governo do capitão, simpático ao autoritarismo, à tortura e ao fascismo, o que, durante quatro anos, foi demonstrado em suas motociatas, quando nos fez lembrar de Benito Mussolini e suas motociatas pelas ruas das cidades italianas:
“ ‘Vai, meu filho! Sê forte e valoroso!
Luta pela grandeza do Brasil,
porquanto este País tão generoso
às portas vê-se de desgraças mil!
Não te intimides ante o cão iroso,
que nos deseja com ganância vil,
pois sei que és destemido, corajoso,
orgulho destes céus de puro anil!’
Falou-me assim a minha mãe querida,
os dias antevendo de aflição,
que nos espreitam nesta humana lida.
Após ditou-me, cheia de emoção,
esta frase bastante esclarecida:
‘Não deixes teu Brasil na escravidão!’ “
Advogado, poeta e cronista, Maurício (1915 – 2008) era filho da atriz de teatro, rádio e cinema Antônia Soares Marzullo e do Italiano Emílio Marzullo. Nos anos 1940, publicou sonetos e crônicas na revista O Espêto, de seu cunhado, Nestor Tangerini.
Durante a faculdade de Direito, começou a escrever seus primeiros sonetos, muitos deles ainda não publicados e que pertencem aos livros “Sonetos familiares” e “Folhas ao vento”.
Em “Sonetos familiares”, demonstra sua habilidade e sensibilidade, quando dedica seus escritos poéticos a sua mãe, à esposa, Antonietta, aos filhos, aos netos e aos sobrinhos.
Publicamos aqui um soneto escrito à Antônietta Saturno Marzullo, em 14 de março de 1947, quando ainda tinha três filhas, Letícia, Marisa e Graça:
“ANTIGAMENTE
Não me posso esquecer de antigamente,
Quando eu ia esperar-te ao teu portão,
E após me aparecias sorridente,
Trazendo-me alegria ao coração.
Toda aquela esperança reluzente
Da tua mocidade em floração
Transformou-se, não sabe muita gente,
Na luz que me alumia a solidão.
Casamo-nos, e Deus, contemplativo,
Duas filhas nos deu, algo festivo,
Melhor simbolizando o Seu presente.
Mas, hoje, revivendo o que é passado,
Das crianças, embora, rodeado,
Não me posso esquecer de antigamente... “
Demonstrando ser um poeta inspirado, Maurício reescreve seu soneto, após o nascimento de Maurício Jorge, seu quarto filho:
“ANTIGAMENTE
Não me posso esquecer de antigamente,
Quando eu ia esperar-te ao teu portão,
E após me aparecias sorridente,
Trazendo-me alegria ao coração.
Toda aquela esperança reluzente
Da tua mocidade em floração
Transformou-se, não sabe muita gente,
Na luz que me alumia a solidão.
Casamo-nos, e Deus, contemplativo,
Quatro filhos nos deu, algo festivo,
Melhor simbolizando o Seu presente.
Mas, hoje, revivendo o que é passado,
Dos meus filhos, embora, rodeado,
Não me posso esquecer de antigamente...”
Como vemos, os sonetistas – Segunda Geração Parnasiana? – prosseguiram cantando e andando para o Movimento Modernista de 1922.
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Na foto, Maurício Marzullo com sua mãe, Antônia.