Sob a garoa paulista I
Discordo de Cássia Eller quando se diz "poeta e não aprendeu a amar", pois a poesia existe porque o amor persiste.
Por mais ilusório que seja o envolvimento entre duas pessoas, a poesia se faz no entrelaçar de mãos, no sorriso de canto e no brilho dos olhos sobre aquela estranha que lhe é tão próxima.
A poesia também se faz na fantasia da paixão. Na harmonia dos ventos com o vestido primaveril, do sol com os arbustos refletindo os lagos.
Então faremos um piquenique ao sol de outono, comendo algumas massas ou miúdos industrializados, tomando um vinho e ouvindo Belchior ou Marisa Monte, enquanto compartilhamos o nosso passado.
E por mais desafiador que seja, a poesia se faz naquele que, por escolha ou desilusão, se coloca só diante da vida. O som dos pássaros harmonizando com os ventos, que lutam por um espaço nessa selva urbana. A arquitetura dessa cidade que logo se fará histórica e dessa mecânica humana que logo morrerá.
Então caminhemos entre as vias sob o sol de outono, bailando entre os ventos, o canto dos pássaros e as fofocas diárias de uma sociedade cansada. De óculos escuro, caminhando com meu all star verde ao som de Rolling Stones sob a garoa paulista.
E por mais insana e inevitável que seja, a vida se faz na poesia das manhãs de domingo às manhãs de segunda, no intervalo, quase imperceptível, de 7 dias.