LEI SUPREMA
LEI SUPREMA
Nelson Marzullo Tangerini
Lendo a revista carioca Vida Nova, p. 53, janeiro de 1947, eis que encontro o soneto “Lei suprema”, de Queiroz Sobrinho, nitidamente influenciado pelas ideias de Antoine Laurent Lavoisier (1743 – 1794), célebre químico francês, conhecido pela frase “Na natureza nada se cria, tudo se transforma”.
Nada sei sobre Queiroz Sobrinho. Talvez seja mais um poeta da segunda geração parnasiana, que vem desembocar em minhas pesquisas sobre a Segunda Geração Parnasiana, que poderá ser chamada, também, de “pós parnasiana”. Ou ainda, de “neoparnasiana”.
Não sei se me repito, mas a revista Vida Nova costumava publicar sonetos de inúmeros poetas “passadistas” (termo usado pelo modernista Mário de Andrade), que preferiam compor dentro do estilo parnasiano. Inclusive, de Nestor Tangerini, que foi um dos “parisienses”, como eram chamados os poetas do extinto Café Paris, que faz parte da história literária de Niterói e do antigo Estado do Rio de Janeiro, na década de 1920.
Abaixo, transcrevo o referido soneto, dedicado ao sr. Pedro Pontes, publicado naquela interessante e modesta revista:
“Na gênese da ‘Vida Universal’,
Para a harmonia os corpos se combinam:
O singular transforma-se em plural;
Ora crescem grandezas, ora declinam.
Os átomos dos mundos se iluminam
Na luz da ‘Eternidade Sideral’;
Certo as substâncias nunca se eliminam
Nos segredos da ‘Síntese Imortal’.
A nômade ‘Matéria’, sempre em luta,
Ora assume uma forma, ora outra forma
Na molécula inquieta e dissoluta...
E eis, a ‘Humana criatura’ se conforma
Nessa lei de esperança que é absoluta:
- ‘Nada sucumbe... Tudo se transforma!’ “
O leitor dirá que o trabalho do sr. Queiroz Sobrinho nos faz lembrar dos sonetos de Augusto dos Anjos, repletos de vocábulos científicos. Nem tanto, uma vez que a poesia augustiana muitas vezes retrata o fim certo de todo ser vivo.
Certamente, Queiroz Sobrinho era um possível leitor do poeta pré-modernista, embora seguisse por uma outra temática. Mas deixou alguma obra publicada? Onde e quando nasceu? Não sabemos. Se seguiu nessa linha, deve ter sido um poeta muito interessante.
Não sei se exagero, mas pensei, também, na possibilidade de o poeta ter sido leitor, de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, por conta de seu vocabulário científico.
Uma coisa é certa – ou talvez não seja -: o poeta em questão, se não foi um pré-modernista, foi um pré-modernista tardio.
Seria interessante procurar seus livros – se ele os tiver publicado – em sebos de nossa cidade. A literatura brasileira ganharia muito com esse precioso achado.