Previsão do tempo
Previsão do tempo
Os anos foram se passando, as rugas se impondo, os cabelos brancos marcando território e a pele flácida brincava de gangorra. Nada naquela estrutura frágil parecia conectada.
Um sorvete derretido pelo sol, era mais ou menos isso. As pernas não passavam de anciãs mal-humoradas, os joelhos gritavam por socorro e os pés inchados e doloridos brigavam com os esporões.
Uma confusão dos diachos. Os ossos por mais ruídos que fizessem não abalavam os ouvidos. Esses estavam moucos. E o quer dizer dos olhos? Eles tentaram observar tudo o que estava acontecendo, entretanto uma nuvem se formou diante deles e uma catarata de decepção revelou o filme da vida.
Tantos perrengues que mal cabiam naquela massa cefálica em curto-circuito. Sim, alguns transistores estavam queimados e as lembranças do ontem, feito alma penada, apareciam vagamente. Por fora, um bom cirurgião e alguns milhares de euros, nao real, esticaria tudo.
Por dentro, um milagre seria pouco, uma intervenção celestial seria mais apropriada. Mesmo assim, a garantia de sucesso teria uma validade enxuta. Ah, mais até chegar ao estágio crítico, a sabedoria abre alas. Apesar de algumas mossas, a lataria é resistente, principalmente, aos novos machucados. Com a experiência aprende-se tantas coisas, evita-se embates e ama-se calado.
Não há mais a necessidade de gritar ao vento segredos de liquidificador, nem mendigar like nas fotografias, tampouco querer pertencer, muito menos se importar. Só se morre uma vez, mas viver pode ser de várias maneiras.
E as marcas do tempo não serão coeficientes de alienação ou estrangulamento da racionalidade, muito pelo contrário, serão indicadores de sabedoria e fatores de decisão. Com toda essa desordem natural, a vida vale o risco previsto e a garantia do aqui e agora.