Próxima Estação - Next Station - Paraíso
São sete e meia da manhã. Não acredito que terei que ir para o trabalho mais cedo. O metrô é mais lotado, trava em quase todas as estações.
Olho distraidamente pela janela, buscando pensar em outra coisa que não você. Coloco um podcast no fone, algo sobre “A Divina Comédia” e as camadas do inferno de Dante - Qual seria minha camada? - Acho curiosa a camada dos amantes ser composta por um furacão que os arrasta e os levam, tais como suas paixões arrebatadoras - vamos ser arrastados como somos agora?
Não costumo prestar atenção nas coisas ao redor, ainda mais com fone. Isso é bom, em parte, porque não preciso me lembrar de tanta coisa, quando vejo, o gatilho já passou.
Ok, metade do caminho já foi, agora mudar de linha - e eu te procuro. Eu sempre te procuro.
Subo as escadas e o metrô está prestes a fechar, acelero o passo me esgueirando pela porta quase fechando. Se tive sorte em não perder esse metrô, perdi a sorte ao ouvir o último suspiro de meu fone, depois de ter ignorado, consideravelmente, seu pedido de recarga. Abaixo-me para guardar o fone na mochila e paro paralelamente com o caderno de alguém. O dono do caderno me olha com espanto - e o mesmo espanto eu volto a ele.
A gente se levanta… É você. Eu não posso acreditar.
Num ímpeto, a gente se abraça como se não soubéssemos que estávamos vivos. Nesse mesmo ímpeto, seus lábios comungam os meus. Num, susto, a gente se afasta pelo que aconteceu.
“Eu não posso… “- você diz, mas num outro beijo eu te calo e você não protesta dessa vez. Eu não achei que esse dia fosse chegar, então eu não vou desperdiça-lo.
A porta do metrô abre e você me puxa para fora do vagão…
Eu espero que aceitem as desculpas que demos em nossos trabalhos.