Minha Companheira Solidão

Ficar sozinho foi a coisa mais dolorosa que pôde acontecer durante todos os dias e noites por mim vividas. Peço licença aos ouvidos para reproduzir a minha labuta em rumo a solidão que nunca me deixou sem a sua companhia. Tenho que contar sobre a minha maior parceira.

Eu, um menino pequeno e muito magrelo, o décimo primeiro filho de uma família grande que gostava de se reunir para alguns acertos, roda de conversa e diversão. Tudo parecia tranquilo.

De repente, a solidão que sempre que tinha oportunidade, estava lá à minha espreita. Sentia que um sentimento de abandono que me rondava toda vez que os encontros entre família se dispersavam. Um sentimento parecido quando a morte deseja ansiosamente carregar a sua próxima vítima. Assim era minha sina solitária; ninguém se lembrava que eu tinha ficado para trás, mesmo estando dentro da casa de meus pais no meu habitat diário.

Quando resolvi arrumar meu primeiro namoro com uma colega de infância, ela sempre me deixava falando sozinho como um objeto que não tem nenhuma importância. Certo dia, ela resolveu me trocar por um outro ser solitário que morava distante, muito distante… para evitar que eu não pudesse ver se ela também o deixava só, assim como me deixou. Com o passar do tempo, percebi que até em meio ao meu trabalho eu estava por vezes sozinho assim como um pássaro que abandona o seu ninho e deixa o seu filhote à espera de comida.

Se sentir sozinho já estava sendo uma parte da minha vida. Vida essa, que ainda estava para ser cumprida, pois minha parceira de todas as horas ainda tinha muito para me oferecer. Chamo de minha parceira, essa tal solidão, que a cada instante se tornava constante, torcendo pelo meu isolamento.

Mesmo tendo amigos e mais amigos, saindo junto para as diversões, os jogos e outras festas, volta e meia eu estava ali no canto abandonado, deixado de lado como uma fruta podre que é retirada do meio das boas. Essa sorrateira amiga e parceira solidão, me tornava a cada dia depressivo, por não me fazer entender que está sozinho não significava solidão. Minha mente a cada dia reduzia e se tornava do tamanho de um caroço de feijão.

Os dias iam se passando e eu não compreendia que todos os dias nós precisávamos de um pouco de solidão. E que não há sentimento tão doído quando queremos a companhia de qualquer ser humano e não podemos ter. Soa estranho ter tantos amigos por meio da tecnologia, até mesmo no meu próprio lugar e outros do dia a dia, e de repente está só nessa tal melancolia.

Queria que ela fosse embora para acabar com a minha agonia, mas ela estava obstinada em permanecer comigo a cada segundo do relógio, a cada ponteiro que batia. Foi então que eu aprendi que eu necessitava dela, e mesmo que eu me sentisse tão mal, não existe um remédio para curar esse tédio que foi trazido por ela.

Em um dia bem turbulento com muita algazarra e animação, senti a falta dela e vi que ela tinha me deixado na mão. Então, saí à procura dela, por vários cantos do mundo. Gritava e implorava, pois a vida turbulenta eu já não aguentava mais. A vida em solidão era a que mais me ensinava, que às vezes o silêncio pode se tornar um tormento, mas ali eu refletia sobre a vida, sobre tudo que eu fazia, sobre quando eu errava, e até quando eu acertava.

Ah solidão! Foi embora sem ao menos avisar. Se eu soubesse que faria tanta falta, tocaria uma melodia, em meu violão, gaita e flauta para poder te embalar. Ó companheira de todas as horas, por que permite que este te implore? Volta para mim sentimento doído, mas que me fez aprender a viver e compreender todo o translado do mundo, mesmo que às vezes eu parecesse moribundo. Agora aprendi que só serei feliz se estiver com você.

Volta solidão, não me deixes, ou então não viverei sem você.

Ah solidão!

Minha solidão!

O Poeta do Sertão
Enviado por O Poeta do Sertão em 03/07/2023
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